domingo, 30 de agosto de 2009

POESIA/Um texto de Jóis Alberto

POETAS AZUIS PAIXÕES VERMELHAS AMORES AMARELOS

Jóis Alberto Revorêdo

Nesta época do ano em Natal
O sol, o vento, as dunas, o mar nos convida
A mergulhar em lugar nenhum do lugar-comum
Da lagoa azul de nossas vidas.

Foi no meu quadragésimo terceiro aniversário
Que desejei teu amor –
Moça de 24 anos de idade, simpática comerciária –
Que desejei teu aroma natural,
Tua doce fragrância matinal...

Foi uma paixão qual vento alísio ou zéfiro
Que levanta e espalha pelo chão
As folhas secas do outono que eu sou
Nos quintais de mangueiras do Alecrim que nós somos
Onde o sol aquece telhados vermelhos
- Ou marrons, quando velhos -
Onde gatos passeiam com almas de poetas
E se avista o rio Potengi e o mar,
A vela da jangada, que a brisa impele,
Com o pescador e sua curtida pele.

Corria o lindo mês de outubro,
Corria o belo mês do nosso aniversário,
Quando numa tarde de sábado,
Saímos, eu e minha carinhosa libriana,
A flanar nos sofisticados templos
Do comércio, entretenimento e lazer
E dentre outras distrações bacanas
Navegamos na internet do Café da livraria.

Enquanto nossos parcos recursos financeiros possibilitavam
E a consciência tranqüila do dever cumprido nos acalmava,
Passeamos nos ambientes culturais e de ócio
Sem entrar nas lojas de finos objetos e negócios
Por onde transitam os burgueses,
Cujos cérebros, mesmo nos finais de semana,
Meditam – pesando lucros e prejuízos financeiros –
No status da família, na concorrência do trabalho,
Nas oscilações do dinheiro,
Embora em escala menor do que a ganância das aves de rapina,
Avarentas, sovinas,
Desses “corsários que enfeitamos com o nome de banqueiros”,
Segundo a definição de Honoré de Balzac.

Não sabes quem é Balzac?
Não importa! Essas não são preocupações
De uma jovem operária do comércio.
São reflexões, impressões, flores e espinhos
De um poeta, cansado e sozinho,
Que recorda a juventude ou amigos distantes.

Pra que te aborreceres com essas divagações diletantes?
Não te aborreces? Também escreves versinhos?
Gostas dos livros de Paulo Coelho?
E já que me pedes, te dou um conselho:
É assim que se começa,
E com algum talento e perseverança,
Da vida literária depois se cansa!

Hoje, quando nosso flerte acabou,
Acho que não deveríamos ter dado abraços e beijos.
Só deveria ansiar por teu sorriso se eu fosse mais moço,
Pois se tu cedesses mais, a este e outros desejos,
Eu seria chamado de poeta marginal e preguiçoso
Ou me tornaria um esnobe e vaidoso.
E como a inveja sempre acompanha a vaidade
E desejar algo ou alguém pode gerar sofrimentos,
Paixões fortes ou fúteis,
Eu prefiro fugir dessas românticas veleidades
E te revelar: nem todos os poetas são azuis,
Alguns amores são amarelos,
Como nos versos do francês do século 19, Tristan Corbière.
Poeta antipoeta, Corbière se hoje vivesse
Ironizaria esses meus versos e a corbelha
Que porventura eu, com amor, te oferecesse.
Muitas e boas lições de verdadeira
Arte e amor nos ensina
Esse belo e bendito Corbière,
Que num caricato auto-retrato,
Aparece curvado como alguém que pensa no limbo,
A fumar, vagabundo, um cachimbo,
Enquanto a aranha tece as teias
E o tempo esquece os poetas
De sarcástico spleen ou poéticas veias.

(Poema do livro “Poetas azuis paixões vermelhas amores amarelos”, de Jóis Alberto Revorêdo, Natal: Sebo Vermelho, 2003).

NOTÍCIA/Encontro de João Redondo

Teatro de João Redondo
Patrimônio Imaterial do Brasil


O teatro de bonecos, uma das mais tradicionais manifestações artísticas da cultura popular nordestina, patrimônio imaterial de todo o povo brasileiro, será o principal destaque de evento que o Iphan - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional realizará em Natal, de 03 a 06 de setembro de 2009. Trata-se do “Encontro de João Redondo – Teatro de Bonecos Popular do Nordeste”, cujas plenárias e debates acontecerão no auditório do Marina Travel Praia Hotel, na Praia dos Artistas, pela manhã (8h30 às 11h30) e à tarde (14 às 17h).
À noite, a partir das 19h30, os brincantes – apresentadores desse tipo de teatro – farão apresentações no Largo da Praça Augusto Severo – Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão, Ribeira. No domingo (06/09), apresentações a partir das 14h. Participarão do Encontro mestres da capital e do interior. Uma das atrações será a presença de uma grande artista do teatro de bonecos, Maria Ieda da Silva Medeiros, dona Dadi como é mais conhecida, de Carnaúba dos Dantas (RN). (Jóis Alberto).
Fonte: Fundação José Augusto.

UM POEMA DE CORBIÈRE

O CACHIMBO DO POETA
(La pipe au poète)

Tristan Corbière

Sou o Cachimbo de um poeta,
Sua ama: que a Besta lhe aquieta.

Quando um sonho cego apanha
A fronte em seu louco trajeto,
Fumego... e ele, no seu teto,
Já não vê as teias de aranha.

... Eu dou-lhe um céu de paisagens:
Nuvens, mar, deserto, miragens;
_ Seu olho morto ali se perde...

E quando a névoa se faz pesada
Crê ver uma sombra passada,
_ E minha boquilha ele morde...

_ Outra tormenta desabrida
Solta-lhe alma, corrente e vida!
... Sinto-me que apago. – Ele dorme –
...............................................................
_ Dorme, pois dorme a Besta lassa.
Traga do sonho o conteúdo...
Pobre amigo!... a fumaça é tudo.
_ Se é certo que tudo é fumaça...

Paris. – Janeiro

(Poema do livro “Os amores amarelos”, São Paulo: Iluminuras, 1996. Introdução, tradução e notas de Marcos Antônio Siscar)