sábado, 11 de julho de 2009

POEMA de Jules LAFORGUE

Jules Laforgue

LAMENTO SOBRE CERTAS ARRELIAS

(Complainte sur certains ennuis)


Cosmogonias no poente!
Oh! como a vida é cotidiana...
E, se a miemória não me engana,
Como eu fui pífio e sem talento...

Que bom era desabafar
Contando coisas surpreendentes,
Fazendo, duma vez pra sempre,
Compreender-nos sem falar

Que bom exaurir o silêncio,
Romper o exílio das palestras;
Mas não, essas damas são agrestes,
Em assuntos de precedência,

Têm amuos, são intratáveis,
Mas há quem diga, com dialética,
Que, por confusão superestética,
Entes assim são adoráveis.

Justamente, vemos aquela
A chamar-nos, para buscar
Seu perdido anel (em que mar?)
Recordação de amor, diz ela!

Entes assim são adoráveis!

terça-feira, 7 de julho de 2009

NOTÍCIA/ Sessão Cinema e Psicanálise


O demônio do meio-dia

Filme francês aborda, com bom humor, divórcio
de quarentão que busca “pastos verdes”


“O demônio do meio-dia” é o título do filme que será exibido às 20h de sexta-feira, 10/07/09, na Aliança Francesa de Natal, Praça Cívica, Petrópolis, dentro da programação da “Sessão de Cinema e Psicanálise”, promovida pela Escola Brasileira de Psicanálise, Delegação Rio Grande do Norte. Trata-se de uma comédia, com direção de Marie-Pascale Osterrieth, roteiro de Michèle Bernier e Florence Cestac. No elenco Michèle Bernier (Anne), Simon Abkarian (Julien) e Mathis Arguillère (Pierre).
De acordo com a sinopse do filme, “por volta dos quarenta, o macho humano tem o costume de deixar sua esposa `usada´ para ir atrás de pastos verdes”. Anne experimenta isso com Julien, o homem de sua vida. Depois de quinze anos de vida em comum e um adorável filho, ela deve se render à evidência: Julien está apaixonado. Cega, depois revoltada e partindo a procura de amantes, ela acaba por aprender a viver com uma realidade que não quis nem para ela nem para seu filho. E como todas as grandes crises da vida, sua dor faz eco a outras mais escondidas, da infância. Mas todo esse caos lhe permite descobrir uma capacidade que ela não conhecia: a de rir disso. Esta comédia reflete uma parte da vida de Michèle Bernier e de seu divórcio.




segunda-feira, 6 de julho de 2009

NOTÍCIA – Curso na FJA mostra linguagem contemporânea de documentários

Lições da estética do Documentário de Criação

Jóis Alberto

A exibição de criativos filmes em curta metragem sobre artistas pernambucanos contemporâneos – Brennand e Teresa da Costa Rego, dentre outros – marcou o encerramento do curso “Introdução ao Documentário de Criação”, promovido pela Fundação José Augusto – FJA, com apoio da Galeria Zoon de Fotografia. Realizado de segunda-feira (29/06) até sábado passado (04/07) no turno matutino (8 às 13h), em auditório da FJA, o curso foi ministrado por Gualberto Ferrari, documentarista profissional, que tem em seu currículo longa experiência na BBC Television. G. Ferrari nasceu na Argentina, mas foi criado na França (os curtas exibidos no curso são uma co-produção França/Brasil), tendo trabalhado sempre como jornalista independente, assistente de direção, consultor de roteiro e autor/idealizador de longas metragens.
Devido ao fato do número de inscritos no workshop ter ultrapassado as expectativas dos organizadores, estes conseguiram ampliar o número de 20 para 40 vagas, mesmo assim 55 pessoas ficaram fora do processo. Os organizadores do evento priorizaram a inscrição daqueles que já tinham experiência com audiovisual, educadores, estudantes de comunicação social e jornalistas que manifestaram interesse em ingressar nessa área. Ao final de cada aula do curso, Gualberto deu assessoria a criadores de 13 projetos de documentários em andamento, que foram selecionados pelo professor documentarista. Segundo Geraldo Cavalcanti, assessor para o Audiovisual da FJA, “a Fundação José Augusto, através do Núcleo de Produção Digital Boi de Prata, iniciará, em breve, uma série de cursos de formação para pessoas que pretendam atuar na área audiovisual”.
Participei do evento como jornalista interessado na realização de documentários. Nesse sentido, aproveito a oportunidade deste gancho para fazer aqui no blog alguns comentários não só sobre o curso e o trabalho de Gualberto Ferrari, mas também para divulgar trechos, atualizados, de uma matéria que escrevi em 2006 sobre o audiovisual natalense para a revista Brouhaha, da Fundação Capitania das Artes (ver a outra postagem deste dia). Bom, quanto ao curso, de modo geral gostei. Especialmente pelo profissionalismo e criatividade de Gualberto Ferrari, que além de ter ensinado para a turma as diferenças fundamentais entre um documentário de criação e um documentário jornalístico, recebeu aplausos de todos pela fina sensibilidade e competência com que dirige os filmes, notadamente os já citados sobre os artistas pernambucanos.
Fiquei bem impressionado com o fato de Gualberto Ferrari em nenhum momento ter caído no lugar-comum, nos estereótipos que muitos documentaristas estrangeiros incorrem ao filmar a realidade brasileira. Gualberto, que já conhece o Brasil de outras viagens e contou com uma equipe muito bem assessorada, conseguiu mostrar a realidade brasileira, no caso a realidade sócio-cultural em Recife, com uma sensibilidade, uma criatividade, que poucos documentaristas brasileiros teriam conseguido. Beleza! É torcer para que a TVU, da UFRN, possa em breve exibir esses documentários, já que Gualberto admitiu essa possibilidade, ao ser perguntado em público pelo jornalista e professor da UFRN, Ruy Alckmin, ao final do curso, acerca dessa veiculação.

Importância e atualidade do gênero documentário

O documentário é um dos gêneros cinematográficos mais antigos. Talvez possa se afirmar que nasce com o próprio cinema, já que as primeiras filmagens realizadas no mundo tinham a intenção de captar, documentar cenas do cotidiano. Porém, como o documentário não tem a finalidade de meramente reproduzir o mundo, mas de refletir sobre uma determinada realidade, buscando, para isso, uma narrativa crítica e criativa, de modo a despertar o interesse da platéia, trata-se de um gênero com linguagem própria, com vários estilos de filme e que tem passado por uma grande renovação nos últimos anos. No Brasil, existe há muito uma boa tradição de documentários e documentaristas, dentre os quais podemos citar Joaquim Pedro Andrade nos anos 60; o curta “Ilha das flores”, que tem apenas 15 minutos, mas que trouxe grande renovação no final dos anos 80, revelando o nome de Jorge Furtado; “Anos JK – uma trajetória política” (110 min), de Sílvio Tendler; dentre vários outros títulos e nomes, como os de Eduardo Coutinho, João Batista de Andrade e Sílvio Back, estes ainda em plena atividade na atualidade.
A rigor, meu interesse pelo cinema vem desde a infância. Na adolescência (final dos anos 70 e início dos anos 80), frequentei as sessões do cine clube Tirol e as de cinema de arte, promovidas pelo Sindicato dos Bancários no antigo cine Rio Grande, em Natal (RN). Depois, entre 1987 a 2007, participei, como repórter especializado em jornalismo cultural, da maioria das edições anuais do Festival de Cinema de Natal- FestNatal, organizado pelo jornalista e crítico de cinema Valério Andrade, com apoio do Governo do RN e Prefeitura de Natal, dentre outros órgãos públicos e empresas da iniciativa privada. Primeiro, cobrindo o evento para o Diário de Natal (1987/1997); Jornal de Hoje (1998) e, mais recentemente (2005 a 2008) para a revista Brouhaha, da Fundação Capitania das Artes, órgão da Prefeitura de Natal. Com este curso, pretendo iniciar formação específica, me concentrando inicialmente na elaboração de roteiros.

REPORTAGEM – Crescimento do audiovisual em Natal


MERCADO LOCAL DO AUDIOVISUAL
ESTÁ EM EXPANSÃO

Jóis Alberto

Existe um pólo de cinema e vídeo em Natal? Se o critério de análise usado for a produção em escala industrial de filmes, a resposta evidentemente é não. Mas iniciativas como a produção crescente de documentários, a realização de cursos teóricos e práticos da sétima arte, além da promoção do FestNatal – Festival de Cinema e Vídeo de Natal, apontam para uma resposta afirmativa à questão. Natal tem grandes possibilidades de se tornar um pólo produtor da indústria do audiovisual (cinema e televisão). Alguns fatos recentes confirmam essa possibilidade. Um deles, foi a filmagem das Pelejas de Ojuara, longa metragem baseado em romance homônimo do escritor potiguar Nei Leandro de Castro, numa produção de Luiz Carlos Barreto e direção de Moacir de Góis. O filme, que conta com apoio da Prefeitura de Natal, além de outros órgãos públicos e empresas privadas, com Marcos Palmeira no papel título, teve locações em Natal e interior. Foi lançado no mercado exibidor em 2007.
O FestNatal, por sua vez, tem cumprido alguns objetivos relevantes para a divulgação do cinema brasileiro e também para a difusão das produções local e regional de filmes. Porém, a promoção do cinema nacional não se limita apenas a aumentar e consolidar espaço no mercado exibidor. É preciso também formar novos profissionais para o setor. Em Natal, esse papel tem sido cumprido atualmente por iniciativas do veterano documentarista Carlos Tourinho e pelo jornalista e produtor cultural Henrique José, da Zoon, ong cultural que em parcerias com instituições públicas e empresas privadas, têm realizado com êxito cursos teóricos e práticos de cinema. Nesse sentido, nos últimos meses, a Fundação José Augusto vem se destacando na promoção local de importantes eventos do setor.
Outro sinal positivo é o desenvolvimento do mercado exibidor comercial local, que voltou aos bons tempos, agora incorporando as mais recentes novidades no setor. Depois de um extenso período em que contou com um número reduzido de salas de cinema, em média de três a cinco, o que se deu principalmente entre as décadas de 70 até alguns anos atrás, em decorrência de vários fatores, como a massificação da TV, vídeo cassete, e novíssimas tecnologias como o DVD, Natal conta hoje com 14 salas de cinema, no conceito multiplex e instaladas em shoppings centers. Merece registro ainda a retomada, desde 2005, do movimento de cineclubismo, com o trabalho de divulgação de clássicos da sétima arte, feito pelo Cine Clube Natal.
Também tem contribuído para esse boom do audiovisual natalense o uso, cada vez mais acessível, de filmadoras digitais (miniDV e DVD), graças ao desenvolvimento científico e tecnológico nessa área. Na sociedade contemporânea, as relações entre arte e a ciência - no significado usual dos dois termos – ocorrem na medida em que as tecnologias usadas para a criação e a difusão artística, notadamente as do audiovisual – fotografia, cinema, vídeo, computador – são entendidas como conseqüências práticas do desenvolvimento científico. Ou seja, a técnica como o conjunto de procedimentos e recursos de que se serve uma ciência ou uma arte. Outra maneira de se entender essa relação entre arte e ciência, é nos reportando à pesquisa científica em arte enquanto tal, área de estudos que cresce nas universidades brasileiras.

FORMAÇÃO EM CINEMA E VÍDEO

O desenvolvimento sócio-econômico registrado em Natal nos últimos anos, impulsionado principalmente pela indústria do turismo, tema recorrente na pauta da imprensa local e nacional, na agenda do poder público e nos currículos das universidades, possibilitou igualmente o progresso cultural na cidade. Essa relação entre progresso da infra-estrutura e da superestrutura, aqui colocada não como um determinismo, mas como uma possibilidade realizada, torna-se mais compreensível, quando se analisa o desenvolvimento do cinema. Ou da indústria do audiovisual, este último um conceito contemporâneo afinado com a tendência de convergência tecnológica dos meios de comunicação de massa. Desde as primeiras décadas do século passado, quando a indústria cinematográfica se difundiu pelo mundo, que Natal tem acompanhado não só a evolução do mercado exibidor, com a construção de salas de cinema, mas também registrado algumas experiências natalenses de produção cinematográfica.
Levando-se em consideração o atual número de produções cinematográficas, a maioria documentários em curta-metragem de pequena duração, se não se pode falar em pólo cinematográfico, no sentido industrial do termo, isso não impede o surgimento de um circuito alternativo de produção e divulgação. O Ministério da Cultura, através do projeto Doc.TV, tem selecionado e apoiado algumas iniciativas do cinema documental potiguar, como o documentário Fabião das Queimadas, poeta da Liberdade, de Buca Dantas. O filme foi selecionado entre mais de 900 de todo o país e exibido em 2004 na mostra “DocTV – Brasil Imaginário”, do Minc e TV Cultura de São Paulo. Em 2006, o roteirista Paulo Laguardia foi o vencedor da terceira edição no Estado do DocTV, com documentário que retrata a história da cineasta potiguar Jussara Queiroz. Mais recentemente foi a vez da dupla de documentaristas de Natal, FábiodeSilva e Mary Land Brito, que recentemente dirigiram o documentário “Sangue do Barro” exibido no “DocTV” de 2009.
O documentarista Carlos Tourinho, que entre 2000 e 2004 foi diretor da ABD/RN (Associação Brasileira de Documentarista), seção do Rio Grande do Norte, vem realizando com frequência cursos de cinema em Natal, um dos quais com filmagens no Beco da Lama, tradicional reduto de boêmios, artistas e intelectuais natalenses, no centro da cidade. Tourinho, que começou como repórter cinematográfico nos anos 60, tendo trabalhado à época na TV Tupi e na Globo, além de ter sido diretor de fotografia no longa metragem potiguar Jesuíno Brilhante, de William Cobbett, tem um vasto currículo em cinema e televisão, com a direção de cerca de 30 curta-metragens, e desde 2000 passou a residir em Natal.
Segundo Tourinho, antes os cineastas em vídeo, ou melhor videomakers natalenses, usavam as tecnologias em vídeo analógicas em VHS, U-matic e Betacam. Comenta que os primeiros lançamentos de câmera de vídeo digital chegaram ao Brasil na segunda metade dos anos 90. Nessa época, o equipamento era muito caro. Somente nos últimos anos, a câmera de vídeo digital se popularizou, diz ele, que acredita na tendência de queda do preço. Na realidade, conforme ele assinala, filmadoras para cineastas amadores existem desde as primeiras décadas do século passado, em 8 mm, 9 mm e 16 mm. Nos anos 70, popularizou-se o uso da câmera super 8, “que é o tamanho 8 mm com uma área maior de impressão e exibição da imagem”. Já o repórter fotográfico Henrique José, um dos sócios da ZooN Fotografia, uma atuante ong cultural, explica que, buscando focar a atuação da Zoon para os limites além da arte fotográfica, iniciou ações de intercâmbio e parcerias para a difusão do audiovisual, seja através de oficinas em comunidades, seja com o Projeto Natal de Formação em Cinema e Vídeo, abrangendo palestras, mostra de filmes, capacitações, intercâmbios e produção.
FONTE: Trechos de reportagem, de autoria de Jóis Alberto, publicada em 2007 na revista Brouhaha, da Fundação Capitania das Artes, órgão cultural da Prefeitura de Natal.



domingo, 5 de julho de 2009

UM POEMA de Mallarmé


STÉPHANE MALLARMÉ

O TÚMULO DE EDGAR POE
(Le tombeau d´Edgar Poe)

Tal a Si-mesmo enfim a eternidade o chama,
O Poeta suscita com um gládio erguido
Seu século em pavor por não ter percebido
A morte a triunfar naquela voz estranha.

Eles, vil espasmo de hidra escutando um dia o anjo
Dar às falas da tribo um mais puro sentido
Proclamavam bem alto o sortilégio haurido
Em mistela qualquer de pouco digno arranjo.

Solo e nuvens hostis, oh o insulto coevo!
Se não se esculpe assim ideal baixo-relevo
De que a tumba de Poe deslumbrante se adorne,

Resto caído aqui de algum desastre obscuro,
Que ao menos tal granito em barreira se torne
De atros vôos da Blasfêmia esparsos no futuro.