quarta-feira, 1 de julho de 2009

POEMA de Verlaine


PAUL VERLAINE

SÓIS POENTES
(Soleils couchants)

Uma aurora fria
Pelo campo estende
A melancolia
De sóis no poente.
A melancolia
Canta docemente
Pra quem se extasia
Com sóis no poente.
Sonhos singulares
Como sóis que, velhos,
Se deitam nos mares,
Fantasmas vermelhos,
Desfilam nos ares,
Desfilam, parelhos
A grandes sóis velhos
Morrendo nos mares.

POEMA de Baudelaire

CHARLES BAUDELAIRE

A BELEZA
(La Beauté)


Eu sou bela, ó mortais, como espectro de pedra,
Meu seio, que buscais apertando-os com dor,
Fez-se para inspirar ao poeta um amor
Eterno e mudo assim como a própria matéria.

Sou, no trono do azul, incompreendida esfinge,
Tenho neve no peito e a cor do cisne é a minha;
Odeio o movimento que desmancha a linha,
E, do riso e do choro, a voz nunca me atinge.

Os poetas, ao ver-me as grandes atitudes,
Que pareço ir busca às catedrais gigantes,
Consumirão a vida em vãs tarefas rudes.

Pois tenho, pra encantar esses dóceis amantes,
Um espelho claro aonde as coisas são mais belas:
O olhar, meu vasto olhar, fulgurante de estrelas.