sábado, 19 de dezembro de 2009

FLAMENGO - Uma das minhas grandes alegrias em 2009

Flamengo

Composição: Lamartine Babo

Uma vez flamengo,
Sempre flamengo.
Flamengo sempre, eu hei de ser.
É meu maior prazer vê-lo brilhar,
Seja na terra, seja no mar.
Vencer, vencer, vencer!
Uma vez flamengo,
Flamengo até, morrer!
Na regata, ele me mata,
Me maltrata, me arrebata.
Que emoção no coração!
Consagrado no gramado;
Sempre amado;
O mais cotado nos fla-flus é o 'ai, jesus!'
Eu teria um desgosto profundo,
Se faltasse o flamengo no mundo.
Ele vibra, ele é fibra,
Muita libra já pesou.
Flamengo até morrer eu sou!

sábado, 24 de outubro de 2009

NOTÍCIA/ Show de Lenine encerra CIENTEC 2009 em alto nível

Jóis Alberto

Muito bom o show de Lenine ontem à noite (23/10/09) no anfiteatro da Praça Cívica da UFRN, encerrando a Cientec 2009 - XV Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura. Eu já havia assistido a um show de Lenine em Natal há cerca de uns cinco ou seis anos, num circo montado ao lado do estádio Machadão, dentro de um projeto do Banco do Brasil. Na realidade, desde a adolescência conheço o trabalho dele, que anos depois merecidamente ganhou destaque nacional e, ultimamente, vem ganhando crescente projeção internacional.

Quem me falou sobre a boa repercussão do trabalho de Lenine no exterior foi o meu colega jornalista Rodrigo Hammer, que, para minha surpresa, estava muito feliz em poder curtir o show, que ele fotografou para cobertura jornalística. Fiquei meio surpreso com o entusiasmo de Rodrigo, que admira pouquíssimas figuras da MPB. Rodrigo é um cara que conheço desde o final dos anos 80, quando ele já era um grande conhecedor do rock contemporâneo, em especial o rock progressivo e o heavy metal. Algum tempo depois Rodrigo Hammer passou a colaborar com o DN Cultura e O POTI Revista, cadernos semanais de cultura que eu criei e editei no final daquela década e início dos anos 90, no Diário de Natal. Posteriormente, esse meu trabalho de jornalismo cultural foi aprimorado por outros colegas jornalistas como Franklin Jorge, Nelson Patriota, Carlos de Souza, Moisés de Lima...

De lá para cá, o jornalismo cultural natalense se desenvolveu muito, atingiu um nível que nada deixa a dever ao das grandes cidades brasileiras e Rodrigo Hammer tornou-se um dos melhores profissionais da área em Natal, notadamente nos setores que ele domina bem, como o rock, cultura pop e cinema. Tenho algumas divegências com Rodrigo,como por exemplo as restrições que ele faz ao trabalho de Tim Maia, mas que são naturalmente superadas pelas afinidades que temos em relação a outros assuntos, como o próprio jornalismo cultural, ao rock - do qual ele conhece muito mais do que eu - e ao chamado cinema marginal brasileiro, com os filmes de Rogério Sganzerla, Ivan Cardoso, Julio Bressane, dentre outros.

Gostei de ir ao show também porque surgiu a oportunidade de rever algumas amigas minhas como Fatoka, Rose Marie, além de ter sido apresentado a amigas delas como Mônica e Marisa. Durante o show, no meio do público, tive o prazer de reencontrar Radharani, filha de minha amiga Grace e do artista plástico Marcelus Bob.Na saída, ainda tive o prazer de rever outra amiga, Betânia...

O único problema no show foi a péssima iluminação, não no palco propriamente, mas quando luzes claras e fortes se projetavam sobre a platéia. Ouvi várias reclamações. O setor artístico-cultural da UFRN, responsável pelo evento, precisa solucionar pra não repetir esse problema nos espetáculos que estão sendo esperados agora para o final deste ano e na próxima CIENTEC.

domingo, 30 de agosto de 2009

POESIA/Um texto de Jóis Alberto

POETAS AZUIS PAIXÕES VERMELHAS AMORES AMARELOS

Jóis Alberto Revorêdo

Nesta época do ano em Natal
O sol, o vento, as dunas, o mar nos convida
A mergulhar em lugar nenhum do lugar-comum
Da lagoa azul de nossas vidas.

Foi no meu quadragésimo terceiro aniversário
Que desejei teu amor –
Moça de 24 anos de idade, simpática comerciária –
Que desejei teu aroma natural,
Tua doce fragrância matinal...

Foi uma paixão qual vento alísio ou zéfiro
Que levanta e espalha pelo chão
As folhas secas do outono que eu sou
Nos quintais de mangueiras do Alecrim que nós somos
Onde o sol aquece telhados vermelhos
- Ou marrons, quando velhos -
Onde gatos passeiam com almas de poetas
E se avista o rio Potengi e o mar,
A vela da jangada, que a brisa impele,
Com o pescador e sua curtida pele.

Corria o lindo mês de outubro,
Corria o belo mês do nosso aniversário,
Quando numa tarde de sábado,
Saímos, eu e minha carinhosa libriana,
A flanar nos sofisticados templos
Do comércio, entretenimento e lazer
E dentre outras distrações bacanas
Navegamos na internet do Café da livraria.

Enquanto nossos parcos recursos financeiros possibilitavam
E a consciência tranqüila do dever cumprido nos acalmava,
Passeamos nos ambientes culturais e de ócio
Sem entrar nas lojas de finos objetos e negócios
Por onde transitam os burgueses,
Cujos cérebros, mesmo nos finais de semana,
Meditam – pesando lucros e prejuízos financeiros –
No status da família, na concorrência do trabalho,
Nas oscilações do dinheiro,
Embora em escala menor do que a ganância das aves de rapina,
Avarentas, sovinas,
Desses “corsários que enfeitamos com o nome de banqueiros”,
Segundo a definição de Honoré de Balzac.

Não sabes quem é Balzac?
Não importa! Essas não são preocupações
De uma jovem operária do comércio.
São reflexões, impressões, flores e espinhos
De um poeta, cansado e sozinho,
Que recorda a juventude ou amigos distantes.

Pra que te aborreceres com essas divagações diletantes?
Não te aborreces? Também escreves versinhos?
Gostas dos livros de Paulo Coelho?
E já que me pedes, te dou um conselho:
É assim que se começa,
E com algum talento e perseverança,
Da vida literária depois se cansa!

Hoje, quando nosso flerte acabou,
Acho que não deveríamos ter dado abraços e beijos.
Só deveria ansiar por teu sorriso se eu fosse mais moço,
Pois se tu cedesses mais, a este e outros desejos,
Eu seria chamado de poeta marginal e preguiçoso
Ou me tornaria um esnobe e vaidoso.
E como a inveja sempre acompanha a vaidade
E desejar algo ou alguém pode gerar sofrimentos,
Paixões fortes ou fúteis,
Eu prefiro fugir dessas românticas veleidades
E te revelar: nem todos os poetas são azuis,
Alguns amores são amarelos,
Como nos versos do francês do século 19, Tristan Corbière.
Poeta antipoeta, Corbière se hoje vivesse
Ironizaria esses meus versos e a corbelha
Que porventura eu, com amor, te oferecesse.
Muitas e boas lições de verdadeira
Arte e amor nos ensina
Esse belo e bendito Corbière,
Que num caricato auto-retrato,
Aparece curvado como alguém que pensa no limbo,
A fumar, vagabundo, um cachimbo,
Enquanto a aranha tece as teias
E o tempo esquece os poetas
De sarcástico spleen ou poéticas veias.

(Poema do livro “Poetas azuis paixões vermelhas amores amarelos”, de Jóis Alberto Revorêdo, Natal: Sebo Vermelho, 2003).

NOTÍCIA/Encontro de João Redondo

Teatro de João Redondo
Patrimônio Imaterial do Brasil


O teatro de bonecos, uma das mais tradicionais manifestações artísticas da cultura popular nordestina, patrimônio imaterial de todo o povo brasileiro, será o principal destaque de evento que o Iphan - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional realizará em Natal, de 03 a 06 de setembro de 2009. Trata-se do “Encontro de João Redondo – Teatro de Bonecos Popular do Nordeste”, cujas plenárias e debates acontecerão no auditório do Marina Travel Praia Hotel, na Praia dos Artistas, pela manhã (8h30 às 11h30) e à tarde (14 às 17h).
À noite, a partir das 19h30, os brincantes – apresentadores desse tipo de teatro – farão apresentações no Largo da Praça Augusto Severo – Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão, Ribeira. No domingo (06/09), apresentações a partir das 14h. Participarão do Encontro mestres da capital e do interior. Uma das atrações será a presença de uma grande artista do teatro de bonecos, Maria Ieda da Silva Medeiros, dona Dadi como é mais conhecida, de Carnaúba dos Dantas (RN). (Jóis Alberto).
Fonte: Fundação José Augusto.

UM POEMA DE CORBIÈRE

O CACHIMBO DO POETA
(La pipe au poète)

Tristan Corbière

Sou o Cachimbo de um poeta,
Sua ama: que a Besta lhe aquieta.

Quando um sonho cego apanha
A fronte em seu louco trajeto,
Fumego... e ele, no seu teto,
Já não vê as teias de aranha.

... Eu dou-lhe um céu de paisagens:
Nuvens, mar, deserto, miragens;
_ Seu olho morto ali se perde...

E quando a névoa se faz pesada
Crê ver uma sombra passada,
_ E minha boquilha ele morde...

_ Outra tormenta desabrida
Solta-lhe alma, corrente e vida!
... Sinto-me que apago. – Ele dorme –
...............................................................
_ Dorme, pois dorme a Besta lassa.
Traga do sonho o conteúdo...
Pobre amigo!... a fumaça é tudo.
_ Se é certo que tudo é fumaça...

Paris. – Janeiro

(Poema do livro “Os amores amarelos”, São Paulo: Iluminuras, 1996. Introdução, tradução e notas de Marcos Antônio Siscar)

sábado, 22 de agosto de 2009

LITERATURA/Colaboração do escritor Gilfrancisco

O pesquisador e professor Gilfrancisco, um dos estudiosos do Modernismo Literário na Bahia, tenta há mais de quinze anos confirmar a naturalidade do poeta e romancista, Guilherme Freitas Dias Gomes, irmão do teatrólogo baiano Dias Gomes, que se consagrou como autor teatral em 1960, quando O Pagador de Promessas foi à cena pela primeira vez. O filme de mesmo nome, com roteiro de próprio autor, arrebatou a Palma de Ouro em Cannes, em 1962. Este pesquisador conversou por várias vezes com o historiador Waldir Freitas Oliveira e o saudoso acadêmico, Renato Berbert de Castro (1924-1999), pois havia dúvidas, se Guilherme teria nascido no Piauí, Rio Grande do Norte ou Salvador. Depois de muitas consultas, Gilfrancisco localizou o Cartório na cidade de Natal, mas não o livro de registro. Graças à intervenção e insistência da professora Maria Neide Sobral, da Universidade Federal de Sergipe, que se encontrava nesta cidade (Natal), realizando o doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, foi possível localizá-lo num depósito do Cartório, a certidão de nascimento do poeta. (Do editor do blog)


Guilherme Dias Gomes
um rebelde potiguar na Bahia


GILFRANCISCO *

Guilherme Dias Gomes pertenceu à Academia dos Rebeldes, a qual foi fundada oficialmente em 26 de março de 1930, apesar da existência do grupo desde 1928. Faziam parte da agremiação o grande ensaísta e etnógrafo Edison de Souza Carneiro (1912-1972), o romancista , Jorge Amado de Faria (1912-2001), o grande poeta de Belmonte Sosígenes Marinho Costa (1901-1968), que apesar de viver distante em Ilhéus, sempre foi considerado do grupo, o poeta e depois dirigente comunista durante muitos anos, Áydano Pereira do Couto Ferraz (1914-1985), Raulino Walter da Silveira (1915-1970), o mais moço do grupo e fundador do Clube de Cinema da Bahia, em 1950, João de Castro Cordeiro (1905-1938), romancista e tão cedo desaparecido, Clovis Gonçalves Amorim (1912-1970), o sonetista piauiense, José Severiano da Costa Andrade (1906-1974), o poeta cronista José Alves Ribeiro (1909-1978), os poetas José Bastos (1905-1937) e De Souza Aguiar, o contista Oswaldo Dias da Costa (1907-1979), Otávio Moura e João Amado Pinheiro Viegas (1865-1937), patrono espiritual da Academia dos Rebeldes.

Os Rebeldes viviam em torno de Viegas e se reuniam diariamente no Café das Meninas e no Bar e Bilhar Brunswisck, para comentar os fatos triviais da cidade, os escândalos do bairro literário, e discutir os livros aparecidos e as revistas mais recentes. No início estavam mais ligados com as figuras populares: capoeiristas, malandros, estivadores, boêmios, prostitutas, gente simples da feira de Água de meninos e do mercado das Sete Portas, do que com a literatura propriamente, ou seja, sem muito ou nenhum peso intelectual na vida literária baiana.

Publicaram duas revistas: “Meridiano” (revista de vanguarda), dirigida por Alves Ribeiro, Da Costa Andrade e Jorge Amado, de divulgação dos “rebeldes”, foi publicada em setembro de 1929, um único número, o qual trazia o manifesto do grupo, e o “Momento”, 1931-1932 (mensário ilustrado informativo) dirigida por Emanuel Assemany, que circulou pela primeira vez em 15 de julho de 1931 e chegaria até o número nove, datada de julho de 1932.
Conforme certidão expedida pelo Tabelião Público do 1º Oficio de Notas (RN), em 17 de agosto de 2005, Guilherme Freitas Dias Gomes, nasceu no Rio Grande do Norte (em Natal) em 19 de fevereiro de 1912, filho legítimo de Maurílio Freire Pereira e de Alair Freitas Gomes, sendo seus avós paternos Manuel Dias Gomes e Clotilde Alves da Silva Gomes e maternos Alfredo Machado Freitas e Ambrozina Ribeiro de Freitas. O declarante da certidão foi o próprio pai, registro feito dois dias após seu nascimento. Segundo boletim escolar da Faculdade de Medicina da Bahia, Reg, nº115, consta que Guilherme Freitas Dias Gomes, era natural de Cachoeira, nascido em 24 de fevereiro de 1912, filho do engenheiro, construtor de estradas, Plínio Alves Dias Gomes, que faleceu em 1925 aos 44 anos, em Salvador e D. Alice Ribeiro de Freitas Gomes, ambos baianos da cidade de Cachoeira. Seu pai havia trabalhado na famosa Madeira-Mamoré (estrada de ferro), ferrovia com 336 km de Porto Velho a Guajará Mirim (RO), já desativada, construída em 1907-1912, em conseqüência do Tratado de Petrópolis com a Bolívia, que regulou a questão do Acre. Por esta região, ele morou durante vários anos no Amazonas e Rio Grande do Norte.

Para dirimir quaisquer dúvidas recorri ao arquivo do Colégio Estadual da Bahia – Central, onde Guilherme havia estudado entre os anos de 1924/1927, conforme boletim. Esta incumbência coube ao amigo Ângelo Barroso, professor da Faculdade de Formação de Professores de Alagoinhas – UNEB, que obteve informações da diretora, sobre as fichas individuais dos alunos da década de 20, que haviam sido extraviadas, com as constantes reformas no prédio e realocações dos arquivos. Restava-me apenas consultar o Cartório da cidade de Cachoeira (BA), baseando-me na ficha individual da Faculdade de Medicina da Bahia, que afirmava ser ele oriundo deste município baiano.

Valendo-me da amizade da cachoeirense Maria Raquel dos Reis Morais, chefe de Gabinete da Secretaria de Estado da Cultura de Sergipe (2006), solicitou ao Cartório local, situado no Fórum deste município, certidão de nascimento de Guilherme Freitas Dias Gomes. A confirmação fora dada imediatamente pela própria responsável pelo Cartório Civil, D. Leda, positivando a solicitação. Passados quinze dias, chega a resposta negativando a existência do registro em nome de Guilherme Freitas Dias Gomes. Finalmente, recorremos ao músico Alfredo Dias Gomes (RJ) filho do dramaturgo Dias Gomes, que forneceu o telefone de Célia (até aquele momento, ela era desconhecida por nós), filha do poeta Guilherme Freitas Dias Gomes, que nos passou informações preciosas para a reconstituição da sua biografia, além de enviar cópias do diploma da Faculdade de Medicina da Bahia, que omite o nome da mãe de Guilherme e dá 24 de fevereiro de 1912 como a data de nascimento, certidão de óbito e uma outra certidão retificando o registro quanto aos nomes dos pais de Guilherme, expedida pelo Tabelião Marback (BA) em 15 de outubro de 1934. Nesta certidão confirma ter Guilherme Freitas Dias Gomes, nascido em 24 de fevereiro de 1912, às 7 horas à Rua Frei Miguelinho, filho legitimo do Dr. Plínio Alves Dias Gomes e de D. Alice Freitas Gomes. Depois de vários anos de pesquisa e dúvidas, chegamos à conclusão de que Guilherme Freitas Dias Gomes, é de fato irmão de Alfredo Freitas Dias Gomes.

Ainda criança, Guilherme transferiu-se para a cidade do Salvador, juntamente com a família, para dar continuidade aos estudos, matriculando-se em 1924 no Ginásio da Bahia, para conclusão dos estudos secundários, onde permanece até 1927, quando prestou exames de vestibular na antiga Faculdade de Medicina da Bahia. Formado em Medicina, na Bahia, no ano de 1933, tendo colado grau em 7 de dezembro, Guilherme ingressou como médico no Exército, e por esse motivo fixou residência no Rio de Janeiro. Casou-se com Glória Beck Dias Gomes e faleceu em 8 de outubro de 1943 aos 32 anos, no Hospital Central do Exército, como primeiro tenente, vitima do impaludismo. Na época deixou dois filhos menores, Plínio Carlos, de dez meses e Célia de quatro anos, que atualmente vive no Rio de Janeiro.
Talentoso, responsável e aplicado nos estudos, Guilherme era o orgulho da família. Segundo seu amigo e companheiro de tertúlias Edison Carneiro, “era um dos poucos brasileiros que na época, aprendera alemão na Bahia. Sabia francês, inglês, espanhol, italiano e até se aventurou a estudar japonês e árabe. Com ele iniciei um curso de nagô com Martiniano do Bonfim. Morreu, há alguns anos, como oficial do Corpo do Exercito”.

Guilherme de Freitas Dias Gomes sabia várias línguas, era um estudioso e esse aprendizado lhe fora incutido pelo pai, que era muito severo e o obrigou a estudar em colégio alemão. Este idioma era uma das disciplinas por ele cursada no Secundário, onde obteve média 7 (sete). Segundo Dias Gomes “a família tinha ar de nobreza decadente, arruinada”, pois havia entre seus familiares descendentes de Teixeira de Freitas, que era primo de sua mãe e do Visconde e Marquês de Caravelas (José Joaquim Carneiro de Campos, 1768-1836), seu primo em terceiro grau. Guilherme era o irmão mais velho do teatrólogo baiano Alfredo de Freitas Dias Gomes (1922-1999), seu conselheiro e influenciador na adolescência. “Comecei a escrever para igualar-me a ele. Hoje, acho que fatalmente seria um escritor porque nunca descobri em mim aptidão para qualquer outra atividade. Mas as minhas primeiras experiências literárias foram determinadas pelo desejo de imitar meu irmão”. Dias Gomes começou a escrever muito cedo, aos 9 anos. O poeta Guilherme colaborou na revista “O Momento”, “Etc”, e “O Estado da Bahia”, deixando inédito o romance “Mercado Modelo”.

Sobre este romance, cujos originais se encontram em poder do historiador Waldir Freitas Oliveira, mereceu um comentário do amigo Edison Carneiro em 1935: “O romance de Guilherme Dias Gomes, “Mercado Modelo”, fica limitado pelos muros da cidade. Explora a vida dos humildes, dos desprotegidos da sorte, tanto dos proletários, como a negra Brasilina, neta de escravos, quanto também do pequeno burguês que, em virtude das altas e baixas do capitalismo, como Belizário Portela se proletarizou. E se sucedem, através do romance, as cenas de ternuras e de revolta, e a multidão dos tipos criados pelos antagonismos das classes sociais, - a cafetina, o coronel, a prostituta, o traidor do socialismo, o ladrão, o propagandista, o rebelde. São cenas pegadas ao vivo, com a marca registrada dos fatos diários. E, dominando tudo, estar o Mercado Modelo, casarão infecto onde a gente mais heteróclita do mundo se acotovela na luta pela vida, vendendo, xingando, suando e alimentando o mesmo ódio sagrado pela classe exploradora”.


********

5 Poemas de Guilherme Freitas Dias Gomes
(1912-1943)


1. Poema das Mãos

Há poemas inteiros no côncavo das mãos:
Na angústia milenar das falanges lendárias
pela ânsia de agarrar o mais puro e mais alto;
na palma aveludada das mãos que acariciam,
mãos de noiva...

Nas mãos gordas de bebê, leite e seda rodada
com pedaços de luz na carne perfumando;
na mão que anseia e na que renuncia,
há poemas de dor em versos de agonia.

Quanta angústia nas mãos descarnadas do mendigo
que morre à fome, exangue, nas estradas,
e o sol encontra em crispações nervosas,
no horror das ultimas geadas!

E nas mãos negras do assassino,
pálidas, escorrendo
longos fios de sangue pelos dedos!

Quantos poemas
no prestigio das mãos esguias que dançam no teclado,
despetalando sons pelo silêncio:

Oh. O mágico fascínio das mãos longas de a lista
que bordam lentamente,
no coração da gente.
a arabescada doida de belezas bizarras
com a lã policromia das nuvens do poente!

e quando
sentindo em si as desgraças alheias!
nas mãos do pobre, pelos dedos rolos.
deixais cair moedas a mancheias...

Mas vos adoro sobretudo, ó mãos!,
nas crispações violentas dos gestos de revolta

(Salvador. Etc. Ano VII. nº216, 15.jul.1933.)


2. Gargalhada

Solta do peito os Iguaçus do riso
cascateando em borbotões sonoros.
O próprio sol é um gargalhar de lua
e na acácia do jardim,
florida,
os mil milhões de flores
são mil milhões de gargalhadas d’oiro
num desperdício fantástico de vida!...

Traze sempre contigo, o sol de uma gargalhada
e um riso amigo para as misérias todas
e a sombra da tristeza fugirá da estrada,
quando gargalhares tua gargalhada,
numa alegria festiva! De bodas!

(Salvador. Etc. Ano VII nº218. 15. ago. 1933).


3. O Teu Poema

Quisera que este poema
fosse o teu poema.
Que tivesse perfumes esquisitos
estonteantes
das matas verdes da minha terra,
das noites de luar da minha terra.
Quisera que este fosse o teu poema,
Que eu fizesse com raios de sol
e braçadas de flores,
onde cantasse o hino das manhãs radiosas,
Onde todos os pássaros cantassem
e cantassem todos os cantares
as toadas macias da minha terra.
Quisera por nestes versos todos os diamantes
dos garimpos inotos de minh’alma,
todos os instantes
felizes da minha vida
e oferecer de joelhos
a ti a Deusa dos cabelos revoltos
a minha Deusa.
Então
para bordar estes teus versos
faria viagens arrojadas
por paises diversos,
gastaria somas fabulosas
na descoberta de minas inexploradas
de ouro puro.
Mergulhadores desceriam à procura de pérolas.
Caravanas vistosas
levariam meses trazendo todas as riquezas
todas as belezas,
que eu desejaria incrustar no teu poema.
Mas vejo que é inútil o meu esforço,
inútil a minha tortura
(a cidade do sonho tem ruas de amargura),
teu poema está condenado a não sair de min mesmo,
a morrer na garganta
balbuciante
com a tristeza das flores que não desabrocharam
e dos versos que não foram ditos...

(Salvador. Etc. Ano VII. nº219. 31.ago.1933).


4. Avião

O avião parece
Uma abelha rútila de aço
Aflita por pegar o sol,
Que é uma rosa de fogo
Transplantada no espaço.

Zumbe, trepida, na ânsia de alcançar
A corola de luz para sugar.

Avião!
Pareces bem o coração da gente
Lutando para beijar o sol
eternamente!
Inutilmente.


(Salvador. O Momento. Ano I, nº5, 15. nov. 1931).



5. A Minha bailarina


Minha bailarina loira, alvíssima de neve!
Que vejo em meio às gambiarras,
A tecer arabecos em passos lentos,
E leve, bem leve,
Me põe na vida por alguns momentos
A alegria inquieta das cigarras...

Minha bailarina loira, alvissima de neve!
Que sempre vejo em sonho, noite alta.
Olhos verdes de mar
Perdidos a cismar.
A refletir as luzes da ribalta...


(*) GILFRANCISCO: jornalista, professor da Pós Graduação da Faculdade São Luis de França e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Publicou: “Gregório de Mattos, o boca de todos os santos”; “Crônicas & Poemas Recolhidos de Sosígenes Costa”; “Flor em Rochedo Rubro: o poeta Enoch Santiago Filhos”; “Godofredo Filho & o Modernismo na Bahia”; “Poemas de Enoch Santiago Filho”; “O poeta Arthur de Salles em Sergipe”; “Imprensa Alternativa & poesia marginal, anos 70”; “Tragédia:Vladimir Maiakóvski”, “Musa Capenga – poemas de Edison Carneiro”, “O contista Renato Mazze Luca”, “A romancista Alina Paim”, “Instrumentos e Ofício: inéditos de Carlos Sampaio”, “Jacinta Passos: a busca da poesia”.

E mail gilfrancisco.santos@gmail.com

POESIA – Um poema de Castro Alves

O “adeus” de Teresa

Castro Alves


A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus...
E amamos juntos... E depois na sala
“Adeus” eu disse-lhe a tremer co´a fala...

E ela, corando, murmurou-me: “adeus”

Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...
E da alcova saía um cavalheiro
Inda beijando uma mulher sem véus...
Era eu... Era a pálida Teresa!
“Adeus” lhe disse conservando-a presa...

E ela entre beijos murmurou-me: “adeus!”

Passaram tempos... sec´los de delírio
Prazeres divinais... gozos do Empíreo...
...Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse – “Voltarei!... descansa!...”
Ela, chorando mais que uma criança,

Ela em soluções murmurou-me: “adeus!”

Quando voltei... era o palácio em festa!...
E a voz d´Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!...

E ela arquejando murmurou-me: “adeus”

(Poesias completas, São Paulo, Nacional, 1959. In: “Literatura Produção de Textos & Gramática”, de Samira Youssef Campedelli e Jésus Barbosa Souza).

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

SÉTIMA ARTE/ Sessão de Cinema e Psicanálise

Enigmas da “biografia de um vazio”


Jóis Alberto

“O adversário”, direção de Nicole Garcia, é o filme da Sessão de Cinema e Psicanálise deste mês, às 20h de sexta-feira (14/08/09) na Aliança Francesa de Natal, Praça Cívica, Petrópolis. O roteiro é de Fréderic Bélier Garcia, Jacques Fieschi e Nicole Garcia, baseado no livro de Emmanuel Carrère. Esse longa metragem, um drama policial baseado em fatos reais, teve três indicações ao “Cesar”, o mais tradicional e respeitado Prêmio do Cinema Francês: Melhor Ator (Daniel Auteil), Melhor Ator Coadjuvante (François Cluzet), Melhor Atriz Coadjuvante (Emmanuelle Devos). No elenco, destacam-se Daniel Auteil (Jean-Marc Fauvre), Géraldine Pailhas (Christine Fauvre), François Cluzet (Luc) e Emmanuelle Devos (Marianne).
O título do livro e do filme, ‘O Adversário’, supõe um outro, um duplo que lhe é antagônico, e que, em determinado momento está no comando, comenta Teresa Sampaio, uma das organizadoras do evento. Segundo ela, em 10 de janeiro de 1993, um crime abalou a França e o mundo. O impacto foi devido à natureza enigmática do autor desse ato criminoso, Jean-Claude Romand. As interrogações foram tantas que o caso rendeu um livro cuidadoso intitulado ‘O Adversário’, de Emmanuel Carrère, inúmeros artigos de imprensa, dois filmes e um documentário.
Nicole Garcia baseou-se no livro homônimo ao invés de deter-se ao dossiê do caso. Como o julgamento foi pouco elucidativo, o filme não tem a pretensão de revelar a verdade do caso. Como explica a diretora, na hora em que algo é encenado já é um pouco ficção, assim como o próprio discurso: um pouco mentira, um pouco verdade.
“A interpretação de Daniel Auteuil está sublime e lhe rende uma indicação ao César de Melhor Ator”, opina Teresa Sampaio, acrescentando que o trato que Nicole Garcia dá ao filme torna o tema suportável. “Não ouvimos gritos, não vemos sangue. Ela aposta na amnésia de Jean-Marc e vai reconstituindo a história em flash back, que é como ela diz: ‘ a biografia de um vazio e uma espantosa cadeia de eventos’. Ela não vê e não retrata no filme uma violência real, mas ‘um descarrilhamento, uma total aniquilação de um sujeito excessivamente controlado até que uma parte dele se descontrola e nos escapa completamente’”.




FONTE: Texto com comentário de Tereza Sampaio, enviado por e-mail para o editor deste blog, jornalista Jóis Alberto.

POESIA/Poema de Jóis Alberto

FRONT

Jóis Alberto


anfiguri
figuri-
no
maqui
manequim

paradigma
fundibulário
fuligem
fagulha

bestiário
leviatã

bilontra

bazófia

bravatas

bordões
tiranossauros rex
virgulinos
uma vírgula

desarrazoado babaréu
de um tabaréu
mixórdia data venia
réu
logomaquia

balestilha
bastilha
escombros
erupções
ebulições
revoluções

& evolução das espécies:
provinciano lapuz


FONTE: Poema publicado no livro “Poetas azuis paixões vermelhas amores amarelos” (Poesia e prosa), de Jóis Alberto Revorêdo (Natal: Sebo Vermelho, 2003)

sábado, 8 de agosto de 2009

CRÔNICA/Texto de Luiz Gonzaga Cortez

Candelária tem boêmios que gostam de poesia

Luiz Gonzaga Cortez


No bairro de Candelária, zona sul de Natal, há dezenas de bares e botecos, lanchonetes e mercearias para todos os gostos e preferências dos seus moradores. Intensa vida noturna. Diversos boêmios e tipos folclóricos gravitam e/ou curtem o conjunto construído em 1975. Há bares que funcionam em antigas casas, perto de pracinhas e fundos de quintais, outros localizam-se na principal avenida da capital, a Prudente de Morais, que fecham as portas quando se retira o último freguês. Existem bares apropriados para uma conversa amena, troca de idéias e realização de negócios, assim como há locais onde o barulho impera por causa das possantes caixas de som que poluem o ambiente.
O bar da zuada, como é mais conhecido um dos locais mais populares entre os apreciadores de cervejas e cachaças, tem barulho, mas se conversa numa boa. A zuada é proveniente da gritaria peculiar a alguns boêmios seridoenses. Fica no chamado “triângulo das bermudas”, numa área que compreende a Avenida da Integração, Prudente de Morais e ruas Raposo Câmara e Cruz e Souza. Há outros “triângulos” etílicos no bairro, mas o Bar de Nequinho é conhecido pelos “altos decibéis” do vozerio dos caicoenses que baixam no terreiro de Sr. Neco, um homem muito paciente e cordato com a clientela. No “triângulo das bermudas” estão o Bar de Nequinho, de “seo” Chico, de Niel (Bar São Tomé), Bar da Tesoura, Bar de Lopes, Bar da Saideira, da expulsadeira, do violão e outros mais, além dos churrasquinhos.
Como qualquer bar brasileiro, as conversas giram sobre todos os assuntos e problemas possíveis e imaginários, os temas abordados podem mudar em questão de segundos e as fofocas sobre a vida alheia, política e futebol dominam as preferências. Não escapa ninguém. Os boateiros inveterados gostam de falar de quem está grávida (sem estar), de quem está fumando maconha ou traficando (sem procedências), de quem faliu, dos cornos, dos papudinhos em geral e dos que estão devendo nos bares. Assim como começa, essas conversas terminam sem nenhuma conclusão, sem brigas. Tudo numa boa, às vezes.
O conhecido bar do barulho cordial, o de Nequinho, se fala alto os principais temas do noticiário da mídia do dia. Quem está fora do fuzuê verbal, à primeira vista, pensa que o pau vai baixar, mas o dono, Nequinho, fica olhando e rindo. “È assim mesmo, já estou acostumado”, costuma dizer.
Não se pode esquecer dos cordelistas, poetas e contadores de histórias de vários matizes. Antonio Morais da Silva, quase nonagenário, natural de Caicó, freqüenta o Bar da Tesoura ( nome já diz tudo) e Antonio Severino Filho, paraibano, baixa no Bar de Chiquinho. O contador de histórias fantásticas Hermany Dantas, Toinho das Bolsas eCadinha são figuras do pedaço.
Antonio Severino quando está inspirado, sai do trivial. Indagado sobre quem era, ele respondeu: “Sou uma pessoa que adora uma caninha/para saciar os meus desejos/ seja Pitu, Carangueja/Cinqüenta e Um ou Rocinha/Começo de manhãzinha/vou até ao entardecer/bebendo para esquecer/sem nenhuma alacridade/durmo e sonho com a eternidade/mas sem pensar em morrer”. “Muito bem, poeta! Tome cinco”, grita um parceiro de birita.
No bar da Tesoura, a clientela é da 3ª idade, mas se joga baralho, se ouve Hortêncio Nóbrega cantar e tocar violão. Os caicoenses gostam muito de futebol. Antonio Morais da Silva fez uma trova envolvendo um jogo entre o Caicó Esporte Clube e o Atlético Clube Corinthians, intitulada A Raposa e o Galo. O mote: A raposa comeu o galo sem tirar nenhuma pena. Glosa: Pegamos pelo gargalo/em pleno Avelinão/ sem dó e sem compaixão/ a raposa comeu o galo./Aproveitando o embalo/naquela tarde serena/com tranqüilidade plena/já no começo do ano/o galo entrou pelo cano/sem tirar nenhuma pena”.
Candelária tem outros versejadores, como Sr. Massena, Bonifácio Soares (está no “estaleiro”, isto é, em tratamento de saúde), José Saldanha, André Batista, José Rego e Manuel Azevedo, vulgo Mané da Retreta, autor do “Cordel da Cachaça”, um misto de professor, músico e poeta, natural de Santana do Matos/RN.


Luiz Gonzaga Cortez é jornalista e pesquisador. É autor de livros publicados em Natal sobre integralismo e comunismo. O texto acima foi enviado por Cortez como colaboração a este blog, cujo titular, Jóis Alberto, desde já agradece publicamente a iniciativa, democratizando ainda mais este espaço na internet.

POESIA/ Um poema de V. Khliebnikov

Poesia de vanguarda de Vielimir Khliebnikov (1885/1922)

Aleteando com a ourografia
Das veias finíssimas,
O grilo
Enche o grill do ventre-silo
Com muitas gramas e talos da ribeira.
- Pin, pin, pin! – taramela o zinzibér. *
Oh, cisnencanto!
Oh, ilumínios!

(Tradução de Augusto de Campos e Bóris Schnaiderman, In: “Poesia concreta – Literatura Comentada”, de Iumma Maria Simon e Vinicius Dantas (orgs.), São Paulo: Abril Educação, 1982)

*“Do russo zinzivér. Segundo nota do autor, passarinho que habita margem do rio” (nota dos organizadores da antologia).

NOTÍCIA/Lançamento literário

LULA NA LITERATURA DE CORDEL

Jóis Alberto


O livro “Lula na Literatura de Cordel”, do poeta Crispiniano Neto, será lançado às 20h deste domingo (09/08/09) no estande do Jornal de Fato durante a 5 Edição da Feira do Livro de Mossoró, logo após o poeta tomar posse na Academia Mossoroense de Letras. Editado pela editora Queima-Bucha, daquela cidade, o livro, que já foi lançado em Natal, Brasília, Rio de Janeiro e outras capitais, relata diversos momentos da trajetória política e pessoal do Presidente Lula. O volume tem 10 capítulos divididos em temáticas, como: as lutas do movimento sindical, as campanhas de Lula, as vitórias, Programas do Governo Federal e aliados políticos do líder petista, como a Governadora Wilma de Faria e o Deputado Estadual Fernando Mineiro.
Além de cordéis do próprio Crispiniano, poetas populares de todo o país estão representados no volume. Para escrever o livro, Crispiniano Neto fez uma pesquisa e selecionou trabalhos que melhor representavam momentos marcantes do Presidente Lula, que já é uma das cinco figuras mais cantadas pelos poetas populares, juntando-se ao grupo formado por Padre Cícero, Lampião, Frei Damião e Getúlio Vargas.
A impressão número 01 do livro Lula na Literatura de Cordel foi entregue em mãos ao Presidente da República durante o evento de posse de Crispiniano na ABLC - Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Além do trabalho como escritor, Crispiniano Neto é presidente da Fundação José Augusto (FJA), órgão cultural do Governo do Rio Grande do Norte.

POETA ENGAJADO

Crispiniano Neto já publicou cerca de 150 folhetos de Literatura de Cordel Nordestina, dentre eles Meu Martelo, constantemente recitado antes de grandes reuniões sindicais em todo o Brasil. "A primeira vez que escutei isso foi na greve do ABC. Eram cantados de um lado para animar a peãozada, Crispiniano fazia a sua apresentação, depois a gente cantava "Pra não dizer que não falei das flores", de Geraldo Vandré, e em seguida a gente cantava o Hino Nacional", lembrou emocionado o Presidente Lula durante a posse de Crispiniano Neto na ABLC - Academia Brasileira de Literatura de Cordel, em agosto do ano passado.
O poeta ocupou a cadeira número 26, cujo patrono é Câmara Cascudo, figura que mais escreveu sobre as origens da Literatura de Cordel. Sobre a posse de Crispiniano, o Presidente Lula declarou: "O companheiro Crispiniano fez por merecer esta honra, escrevendo ao longo da vida mais de 150 folhetos de cordel, sempre engajado na luta pela preservação desta arte popular brasileira." Crispiniano é o terceiro poeta norte-riograndense a se tornar imortal da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. O primeiro foi o poeta cordelista, cantor e compositor Marcos Lucenna, que ocupa a Cadeira Número 7, cujo patrono é o poeta e principal editor da Literatura de Cordel, João Martins de Athayde; o segundo foi o poeta Antonio Francisco Teixeira de Melo, que ocupa a Cadeira no. 15, patronímica de Patativa do Assaré. A ABLC homenageia outro norte-riograndense, também folclorista e escritor, Veríssimo de Melo, que é patrono da Cadeira de número 16, ocupada pela poetisa Adriana Cordeiro Cavalcanti.

TRAJETÓRIA DE SUCESSO

Nascido em 22 de fevereiro de 1956, em Santo Antônio (do Salto da Onça) – RN, Crispiniano Neto é filho de José Ireno de Lima (agricultor, plantador de fumo e político) e Rita dos Santos de Lima (comerciante). Tem formação como Engenheiro-agrônomo e é Bacharel em Direito, com Especialização em Língua Portuguesa – Leitura e Produção de Textos. Crispiniano é militante político, sendo membro da direção estadual do PT e em sua trajetória também atuou como cooperativista, líder estudantil e sindicalista.
É jornalista provisionado, assinando coluna diária (Prosa & Verso), no Jornal de Fato, de Mossoró. Tem 11 livros publicados, um CD e os cerca de 150 folhetos de Literatura de Cordel com mais de dois milhões de exemplares espalhados pelo Brasil e outros países. É dramaturgo, com dez peças de sua autoria, dentre as quais se destaca O Auto da Liberdade. É membro da Academia Mossoroense de Letras e do Conselho Estadual de Cultura, do Fórum dos Secretários e Dirigentes de Cultura dos Estados do Brasil, preside a Comissão gerenciadora da Lei de Cultura Câmara Cascudo do RN e representa o Fórum dos Secretários de Cultura do Brasil na Câmara Setorial do Livro e Leitura do Brasil.

SERVIÇO:

Lançamento do Livro Lula na Literatura de Cordel
Autor: Crispiniano Neto
Local: Estande do Jornal de Fato – 5ª Edição da Feira do Livro do Mossoró
Data: 09 de agosto de 2009
Hora: 20h


FONTE: Assessoria de Comunicação Social da FJA.

POESIA/Um poema de Arnault Daniel

Arnault Daniel (1180/1210)


NOIGANDRES


Vejo vermelhos, verdes, blaus, brancos, cobaltos
Vergéis, plainos, planaltos, montes, vales;
A voz dos passarinhos voa e soa
Em doces notas, manhã, tarde, noite.
Então todo o meu ser quer que eu colora o canto
De uma flor cujo fruto é só de amor,
O grão só de alegria e o olor de noigandres*.

(Tradução de Augusto de Campos. In: “Poesia concreta – Literatura Comentada”, de Iumma Maria Simon e Vinicius Dantas (orgs.), São Paulo: Abril Educação, 1982).


“ Noigandres, enoi gandres – expressão provençal, de sentido incerto. Num de seus Cantos – o XX – Ezra Pound narra este diálogo que teve com o notável provençalista alemão Emil Lévy a respeito da enigmática palavra: “...Sim, Doutor, o que querem dizer com noigandres?/E ele disse: ‘Noigandres! NOIgandres!/Faz seis meses já/Toda noite, qvando fou dormir, digo para mim mesmo:/Noigandres, eh, noigandres/Mas que DIABO quer dizer isto!’ ” . (Nota dos organizadores da antologia).

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

NOTÍCIA – Espetáculo de Dança

“Estilos”, um espetáculo do clássico ao contemporâneo

“Estilos” é o título do espetáculo de danças que será apresentado às 20h deste sábado (08/08/09) no Teatro Alberto Maranhão, Ribeira. O espetáculo reúne repertórios da Companhia de Dança, do Grupo Clássico e do Grupo Infantil da Escola de Dança daquele teatro. A maior parte dos trabalhos coreográficos é de autoria de artistas potiguares, como Anádria Rassyne, Silvia Rodrigues, Erika Rosendo, Cosme Gregory, Tomás Quaresma, além de coreografias clássicas de balé.
O espetáculo é uma viagem por alguns estilos da dança, dentre os quais a dança contemporânea, os balés clássico e de repertório. Os três grupos são núcleos que pertencem à Escola de Dança do Teatro Alberto Maranhão (EDTAM), administrada pelo Governo do Estado e vinculada à Fundação José Augusto (FJA). Coordenada pelas professoras Márcia Bulhões, Solange Gameiro e Wanie Rose, a EDTAM é responsável por um importante trabalho de inclusão social e atualmente recebe em sua sede 650 alunos.

Companhia de Dança

Sob a Direção Artística da Professora Wanie Rose, a Companhia de Dança atualmente é composta por 15 bailarinos na faixa etária dos 18 aos 25 anos de idade, e em seus 11 anos de atividades artísticas tem desenvolvido um trabalho de dança contemporânea, buscando uma liberdade de movimento aliada a um domínio técnico corporal utilizando expressões e movimentos menos formais.

Grupo Clássico

O Grupo clássico da EDTAM tem como direção Artística a Professora Solange Gameiro. Este grupo desenvolve um trabalho de técnica do balé clássico com 14 jovens na faixa etária dos 14 aos 17 anos. Desde a sua criação em 2005, participa de festivais nacionais, como: Festival de Joinville (SC), Passo de arte Norte-Nordeste (CE), Festival Internacional de Indaiatuba (SP). O Bailarino Diogo Gonçalves, de 15 anos, foi o grande destaque nos últimos festivais recebendo premiações de bailarino revelação, e sendo selecionado para o concurso do YAGP (Youth America Grand Prix) em Nova York, que acontecerá em março de 2010. Este mesmo bailarino, juntamente com a bailarina Josemara Macedo foram aprovados na audição da escola do teatro Bolshoi no Brasil que aconteceu em julho passado, em Joinville, durante o festival de dança.

Grupo Infantil

Este grupo foi criado no ano de 2006 e tem como Direção Artística as professoras Pepita Liparotti e Márcia Suene. É composto por um grupo de crianças na faixa etária de 9 a 11 anos, onde além da técnica clássica, se trabalha com coreografias utilizando o lúdico na sua sistematização.

SERVIÇO

ESPETÁCULO: ESTILOS
LOCAL: Teatro Alberto Maranhão, Ribeira.
DATA: 08 de agosto de 2009
HORA: 20 h
INGRESSOS: R$10,00 (Inteira) e R$5,00 (meia)
INFORMAÇÔES: 3232-9726 (EDTAM)

Fonte: Assessoria de Comunicação Social da FJA.

POESIA/ Poema de Dorothy Parker

UMA ROSA PERFEITA
(A perfect rose)


Dorothy Parker

Só me deu uma flor desde que me encontrou,
Assim pura e tão fiel, orvalhada e cheirosa,
Que mensageira terna e feliz ele achou:
Uma perfeita rosa.

Da linguagem da flor descobri o segredo:
“trago o seu coração na corola mimosa”!
De há muito o amor tomou para seu amuleto
Uma perfeita rosa.

Nunca ainda ninguém pensou em me oferecer
Um perfeito automóvel... pois, teimosa,
Foi sempre sina minha apenas receber
Uma perfeita rosa.

FONTE: Antologia “Oiro de vário tempo e lugar (De São Francisco de Assis a Louis Aragon)”. Versão por A. Herculano de Carvalho. Porto-Portugal: O oiro do dia, 1983.

NOTÍCIA- Mandato popular na Câmara Municipal de Natal

Vereador George Câmara (PCdoB/RN)
leva ações do mandato à praça pública


Jóis Alberto

Uma das características mais importantes do mandato do vereador de Natal, George Câmara (PCdoB/RN) é a de apresentar projetos inovadores e de grande interesse popular, como o da criação, instalação e funcionamento do Parlamento da Região Metropolitana, bem como a permanente prestação de contas das atividades desse mandato popular. A mais conhecida forma dessa prestação de contas é a Rede da Cidadania, constituída por eleitores, correligionários, simpatizantes e demais interessados. Na data do reinício dos trabalhos legislativos na Câmara Municipal de Natal, em 03/08/09, o mandato de George Câmara lançou em praça pública, no centro de Natal, o Gabinete de Rua.
A programação do evento, bastante participativa, teve como ponto alto a prestação de contas dos primeiros seis meses do Mandato Popular do PCdoB e do povo de Natal, além da reafirmação de compromissos, e, ao mesmo tempo, a constituição de uma tribuna livre para os movimentos sociais e populares, destacando-se a participação dos movimentos sindical, comunitário e da juventude.
George Câmara, que está no segundo mandato de vereador, atualmente é presidente do Parlamento Comum da Região Metropolitana de Natal, que reúne vereadores de municípios que formam a chamada Grande Natal.


FONTE: Assessoria de Comunicação Social do vereador George Câmara.

POESIA – Mais um poema de Mallarmé

BRISA MARINHA
(Brise marine)

Stéphane Mallarmé

A carne é triste e eu, ai! já li todos os livros,
Fugir! Fugir pra longe. Ouço as aves aos gritos
Ébrias na espuma ignota e sob o céu, em bando!
Nada, nem vãos jardins nos olhos se espelhando
Retém meu coração que se embebe de mar,
Oh noites! nem a luz da candeia a alumiar
O deserto papel que a brancura defende;
Nem mesmo jovem mãe que seu filho amamente.
Hei-de partir! Vapor em marítimas crises,
Iça o ferro e faz rumo a exóticos países,
Um Tédio triste, em cruel e inútil esperar,
Crê no supremo adeus dos lenços a acenar.
Que os mastros, porventura, atraindo presságios,
São os mesmos que um vento inclina nos naufrágios.
Soltos no mar, no mar, sem ilhas nem esteiros.
Mas ouve, coração, cantar os marinheiros.

FONTE: Antologia “Oiro de vário tempo e lugar (De São Francisco de Assis a Louis Aragon)”. Versão por A. Herculano de Carvalho. Porto-Portugal: O oiro do dia, 1983.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

NOTÍCIA/Estética e ontologia da arte

CRÍTICO DE ARTES, LUIZ CAMILLO OSÓRIO
MINISTRA MINI CURSO E FAZ PALESTRA NA UFRN


Jóis Alberto

Luíz Camillo Osório, um dos mais renomados críticos de artes do Brasil, está em Natal desde ontem (quarta-feira, 5/08/09). Ele veio a convite da Coordenação do Programa da Pós Graduação em Filosofia (PPgFil) da UFRN para ministrar mini-curso sobre “Estética e política”, dentro da área de estudos de “Estética e ontologia da arte”, destinado a alunos daquela Pós Graduação. O mini-curso, aberto também a estudantes da graduação, foi iniciado na tarde de quarta-feira, no auditório do curso de Filosofia, no prédio do CCHLA – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, e prossegue na sexta-feira (7/08) à tarde no mesmo local, a partir das 15h. Nesta quinta-feira (6/08) à noite, Luis Camillo faz palestra acerca do assunto. Mais informações sobre os eventos na Secretaria do PPgFil pelo fone 3215 3643. E-mail: ppgfil@cchla.ufrn.br.
Doutor em Filosofia pela PUC/RJ, professor universitário, com atuação como crítico de artes na imprensa carioca (“O Globo”, “Jornal do Brasil”), Luiz Camillo é grande conhecedor das vanguardas artísticas do século 20 e durante o mini curso tem feito uma abordagem essencialmente filosófica, ontológica da história dessas vanguardas, desde os impressionistas à pluralidade artística contemporânea, a partir das influências de pioneiros como Picasso, Marcel Duchamp (este, com o ready made); Man Ray, Picabia; a arte pop de Andy Wharol; passando pelas contribuições de vanguardistas brasileiros como Flávio de Carvalho, Abraham Palatnik e Hélio Oiticica, dentre outros grandes artistas. No primeiro dia do mini curso, ele se deteve mais nas análises da estética em Kant (na “Crítica do juízo”) e traçou um paralelo, comparando diferenças e afinidades, entre Kant e pensadores contemporâneos, como Ranciere, Baudrillard, e Walter Benjamin, sem esquecer também dos aspectos políticos da arte.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

NOTÍCIA – Literatura e relações de Poder

Palestra sobre “o mito do canalha”
abre Festival Literário na Siciliano


Jóis Alberto


“O mito do canalha: comportamento e sexualidade” é o tema da palestra que o talentoso escritor e filósofo natalense Pablo Capistrano fará hoje (04/08/09) a partir das 20h na livraria Siciliano do Natal Shopping Center (BR 101, Candelária), abrindo o III Festival Literário de Natal, evento que prosseguirá até a noite de sábado próximo (08/08). Escritor premiado em concurso literário de órgão público cultural natalense e já publicado em livro no eixo Rio-São Paulo, por editora conhecida nacionalmente, Pablo Capistrano abordará o tema na companhia de outro palestrante, Fabrício Carpinejar. A programação do evento é de ótima qualidade, com a participação de intelectuais famosos de Natal e bem sucedidos profissionalmente, como Daladier da Cunha Lima, Ivonildo Rego, Diógenes da Cunha Lima, Jussier Santos, Diva Cunha, Ana Laudelina, Vicente Serejo, e convidados de outras cidades, como o citado Carpinejar e Arnaldo Bloch, dentre outros.
Fiquei curioso com esse título da palestra de hoje: “O mito do canalha: comportamento e sexualidade”. Porque, até prova em contrário, ser canalha não é mito, é fato! Aliás, infelizmente fato bastante corriqueiro nos dias de hoje, onde no comportamento – no trabalho, por exemplo –, prevalecem muitas vezes relações baseadas no carreirismo, no arrivismo, em levar vantagem em tudo, na ingratidão mais infame, no salve-se quem puder! Esse tipo de canalhice, de patifaria, é mito ou realidade? Na sexualidade, a atitude canalha ocorre quando, ao invés de relacionamentos amorosos duradouros, de boa fé e respeito ao outro, o que prevalece é a mentira, a sacanagem, a “fuleragem”, a traição, a humilhação, o sadismo, o masoquismo... Claro, não quero ser hipócrita nem passar por tolo, tampouco “santinho” aqui e, por isso, questiono: quem nunca mentiu, nunca sacaneou, nunca traiu e foi traído na sexualidade? Tudo isso é mito? Não é realidade comum na vida de muita gente?
Uma das melhores abordagens teóricas que conheço sobre o lado canalha, medíocre, injusto, falso, bajulador de poderosos, mentiroso, preconceituoso, fascistóide que existe na maioria dos seres humanos, foi feita pelo grande psicanalista dissidente e marxista heterodoxo Wilhelm Reich, em livros antológicos como “Escuta, Zé Ninguém!” (Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1993, 11 ed.) e outros títulos, que geraram incompreensões à esquerda e maldições à direita... Quando falo em “lado”, dando a entender que existe um “outro lado”, não é maniqueísmo, já que existem vários “outros lados” em todo ser humano... Mas essa é uma metafísica, um psicologismo que deixo para quem domina mais o assunto: Pablo Capistrano.
Retornando à questão posta em debate: “o mito do canalha”! Bem, para eu nunca esquecer de superar o lado obscuro, irracional e que muitas vezes encara como coisa natural as injustiças, lado que às vezes existe em mim e, em graus variados, em todos nós, é que me lembro, sempre com emoção renovada, o grito do grande Walter Franco ao cantar “Canalha” sua célebre canção de protesto, em festival de música da TV na época da ditadura militar e das torturas:
“...É uma dor canalha/
Que te dilacera/
É um grito que se espalha/
Também pudera/
Não tarda nem falha/
Apenas te espera/
Num campo de batalha/
É um grito que se espalha...
É uma dor...” (e em seguida o indignado protesto em alto e bom som) “...CANALHA!!!”

A programação completa do Festival Literário é a seguinte:

04/08 (Terça-feira)

18h - Lançamento Revista O Poder
19h - O Magnífico
Daladier da Cunha Lima, Heriberto Bezerra e Ivonildo Rêgo
Mediador: Diógenes da Cunha Lima
Lançamento: O Magnífico - Uma biografia de Onofre Lopes
Diógenes da Cunha Lima

20h - O Mito do Canalha: Comportamento e Sexualidade
Fabrício Carpinejar e Pablo Capistrano
Lançamento: Terceira Sede
Fabrício Carpinejar

05/08 (Quarta-feira)

17h - Lançamento Vale Grande
José Jorge de Mendonça
18h - Lançamento
No Terreno da Fantasia: uma história do PCB nos anos de 1980
Bruno Rebouças e Roberta Maia
19h - Espetáculo Teatral
Sara Antunes
Monólogo
20h - Planejamento Turístico
Paulo Gaudenzi, Murilo Felinto e Dr. Jussier Santos
Mediador: Jurema Márcia Dantas
Lançamento: Planejamento & Experiências: turismo na Bahia
Paulo Gaudenzi

06/08 (Quinta-feira)
17h - Lançamento
Quem é Daniel Radcliffe
Clara Radcliffe
18h - Cangaço: No rastro da História
Ilsa Fernandes e Rostand Medeiros
Mediador: José Correia Torres Neto
19h - Sarau Potiguar:
Auta de Souza: a Noiva do Verso
Diva Cunha e Noilde Ramalho
Mediadora: Ana Laudelina
20h - A morte de Euclides da Cunha
Palestrante: Luíza Nagib Eluf
Lançamento: Matar ou Morrer - O caso Euclides da Cunha
Luíza Nagib Eluf

07/08 (Sexta-feira)
17h - Lançamento
Ensaio Poético
Ângela Rodrigues
18h - Sarau Potiguar:
Zé Saldanha: o cavaleiro medieval errante
Zé Saldanha e José Acaci
Mediador: Gutenberg Costa
19h - Gêmeas: não se separa o que a vida juntou
Palestrante: Mônica de Castro
20h - Bate-Bola
Marinho Chagas, Marcos Eduardo Neves e André Plihal
Mediador: Augusto César Gomes

08/08 (sábado)
17h - Lançamento
O menino sorriso e a bicicleta liberdade
Flor Atirupa
*dramatização com teatro de bonecos
18h - Grandes Pequeninos
Pocket Show com Jair Oliveira e Thania Khalil
19h - Jornalismo Literário e Biografias
Carlos Marcelo e Arnaldo Bloch
Mediador: Vicente Serejo
Lançamento: Renato Russo - O filho da Revolução
Carlos Marcelo
Lançamento: Os Irmãos Karamabloch
Arnaldo Bloch.

sábado, 1 de agosto de 2009

NOTÍCIA/Cinema brasileiro no Sesc de Natal

“Alma corsária”, filme de Carlos Reichenbach,
abre programação de agosto do CineSesc


Jóis Alberto

“Alma Corsária”, filme de Carlos Reichenbach, abrirá a programação de agosto do CineSesc de Natal a partir das 12h desta segunda-feira (03/08/09).
Destinada preferencialmente aos comerciários e demais usuários dos serviços do Sesc, com entrada gratuita, a sessão é realizada sempre a partir do meio-dia no cinema do prédio onde funcionam o Restaurante e a Biblioteca pública do Sesc, na avenida Rio Branco, 375, Cidade Alta, Natal. A exemplo do que ocorre nas demais cidades do País, o Sesc da capital potiguar mantém uma excelente programação cultural, com sessões de sétima arte – esta em parceria com a Programadora Brasil; exposições de artes visuais, eventos literários, além do excelente acervo de livros da biblioteca.

Na programação, estão filmes de alguns dos mais elogiados cineastas do Brasil, dentro os quais o próprio Reichenbach, Domingos de Oliveira e Sylvio Back. Alguns títulos estão disponíveis em DVD, outros são exibidos com freqüência pela Rede Brasil de TV, mas com certeza é sempre um prazer rever em tela maior alguns desses filmes (o polêmico “Amarelo manga”, por sua estética mais violenta, divide opiniões). Destaco também a oportunidade rara de se assistir em tela grande ao filme “Bang bang: bla bla bla”, de Andrea Tonacci, um dos nomes mais representativos do chamado cinema marginal do Brasil (underground, ou udigrúdi, segundo a irreverente denominação criada por um dos grandes do Cinema Novo, Gláuber Rocha, nos anos 60, que depois faria alguns filmes dentro da estética do cinema marginal).

PROGRAMAÇÃO

A programação completa do CineSesc em agosto, sempre a partir das 12h, é a seguinte:
03/08 – “Alma Corsária”, direção de Carlos Reichenbach.
05/08 – “Amarelo manga”, direção de Cláudio Assis.
07/08 – “Amores”, direção de Domingos de Oliveira.
10/08 – “Baile perfumado”, direção de Paulo Caldas e Lírio Ferreira.
12/08 – “Bebel...”, direção:Maurício Capovilla.
14/08 – “Bete balanço”, direção: Lael Rodrigues.
17/08 – “Aleluia Gretchen”, direção: Sylvio Back.
19/08 – “Amor & Cia”, direção: Helvécio Ratton.
21/08 – 100 anos do “Cinema Natal” (curta/doc.). Mostra Brasil Plural. “Câmara Cascudo: o provinciano incurável”.
24/08 – “Bola na tela”, direção de Frederico Cardoso.
26/08 – “Animações para adultos” – vários diretores.
28/08 – “Bang bang: bla bla bla”, direção de Andréa Tonacci.
31/08 – “Assim era a Atlântida”, direção: Carlos Manga.
Boa diversão a todos! Bom apetite! E boa leitura!

NOTÍCIA/Exposição de fotografias

O FOTOJORNALISMO DE EWALDO GOMES


O fotojornalismo é, junto com o texto do repórter, um dos trabalhos fundamentais da reportagem profissional na mídia impressa (jornal, revista, boletins, livros, etc) e na mídia digital (portal da internet, sites, blogs, etc). Em Natal, existem talentosos repórteres fotográficos, no mesmo nível de grandes nomes de projeção nacional, como Walter Firmo e Evandro Teixeira. Na próxima terça-feira (4/08/09), o público natalense poderá comprovar isso vendo a Exposição de Fotos do repórter fotográfico Ewaldo Gomes, um dos mais atuantes e talentosos de Natal. A mostra, na Sala de Exposições do Sesc Restaurante, será aberta às 12h. Av. Rio Branco, 375, Cidade Alta.

sábado, 25 de julho de 2009

UM POEMA DE R. BROWNING

Robert Browning


VIDA NUM AMOR
(Life in a Love)


Escapares de mim?
Nunca –
Meu amor! –
Enquanto eu seja eu e essa alma for tua,
Enquanto o mundo, aos dois, nos contiver –
Eu te querendo e tu sem nada quereres –
Se há um que evita, o outro continua.
Temo ser minha vida algum erro, por fim –
Antes parece uma fatalidade!
Quase nada consigo, na verdade –
Mas que fazer, se não atinjo o fim?
Há que manter os nervos em tensão,
Os olhos enxugar em cada ruína,
Se malogrado, erguer-me em repelão –
Assim, na caça, a presa se elimina.
No entanto, olha uma vez dessa distância,
Para mim, tão no fundo, em poeira e negrume;
Mal cai por terra uma velha esperança,
Renascido, visando o mesmo lume,
Tomo feitio –
Sempre
Transmudado.

Fonte: Antologia “Oiro de vário tempo e lugar (De São Francisco de Assis a Louis Aragon)”. Versão por A. Herculano de Carvalho. Porto-Portugal: O oiro do dia, 1983.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

TELEVISÃO/Arte com Sérgio Britto

Pina Bausch, expressionismo e distanciamento brechtiano


Jóis Alberto


Você conhece Pina Bausch? É uma grande artista, falecida recentemente e que recebeu uma emocionada homenagem póstuma no programa “Arte com Sérgio Britto”, exibido na noite de terça-feira passada (21/07) pela Rede Brasil de TV. Veterano e sempre talentoso ator, grande conhecedor não só do teatro, mas também de outras linguagens artísticas, Sérgio Britto narrou, com a emoção e inteligência de sempre, como teve oportunidade de conhecer de perto o trabalho de Pina Bausch e exibiu alguns vídeos com o desempenho dessa notável artista do teatro e da dança. Um trabalho dos mais criativos, inovadores, com influência do expressionismo, merecedor de elogios de outros gênios da criatividade artística, como Fellini, que a dirigiu no filme “La nave va”. A arte de Pina também está presente em coreografia de “Fale com ela”, de Almodóvar.
Gostei também de conhecer um pouco mais sobre a vida e obra dessa artista. E passei a gostar ainda mais do programa de Sérgio Britto, um artista que tive o prazer de entrevistar para o “Diário de Natal” há cerca de uns 15 anos ou mais, quando eu trabalhava como repórter naquele jornal. Acho que foi uma matéria pra editoria Geral e, por isso, talvez não tenha sido publicada com a minha assinatura. Mas ficou a lembrança e o prazer de ter entrevistado esse ator. Me lembro que a entrevista foi no Centro de Turismo, numa mesa de restaurante. Sérgio Britto tinha praticamente o mesmo visual que apresenta hoje na TV, uma maneira bem educada de falar, elegante, culto, de modo que a visível superioridade cultural dele em relação a mim, simples repórter de província – sem falsa modéstia ! – não impediu que a entrevista transcorresse com muita naturalidade e ensinamentos, o que rendeu um bom texto.
Hoje, decorrido tanto tempo após essa entrevista, tenho o prazer de assistir semanalmente, toda terça-feira à noite, a esse programa de TV. Sérgio Britto continua brilhante, embora evidentemente eu não concorde com todas as opiniões dele. Já discordei em pelo menos duas ocasiões, quando Sérgio opinou que a teoria do distanciamento em Bertold Brecht – embora ele reafirme ser Brecht um grande dramaturgo – estaria ultrapassada, porque o comunismo não existe mais! Não é bem assim, como já mostrou, anteriormente, Anatol Rosenfeld em textos ainda mais brilhantes acerca do teatro épico brechtiano. Dentre as características desse tipo de teatro, figuram o efeito de distanciamento – um dos recursos mais importantes de distanciamento é o de o autor se dirigir ao público através de coros e cantores –; a ironia, a paródia, recursos cênicos-literários e cênicos-musicais.
Há raízes que o ligam ao teatro naturalista, mas o seu antiilusionismo e marxismo atuante separam-no radicalmente do ilusionismo e passivismo daquele movimento. Por sua vez, o antiilusionismo e antipsicologismo dos expressionistas são totalmente renovados na obra de Brecht, despidos do apaixonado idealismo e subjetivismo desta corrente. Brecht absorveu e superou ambas as tendências numa nova síntese.
Voltarei a esse assunto qualquer dia desses.

terça-feira, 21 de julho de 2009

FADO

Coimbra


Composição: Raul Ferrão / José Galhardo


Coimbra do Choupal
Ainda és capital
Do amor em Portugal
ainda
Coimbra onde uma vez
Com lágrimas se fez
A história dessa Inês tão linda
coimbra das canções tão meigas
Que nos põe
Os nossos corações a nu
Coimbra dos doutores
Para nós os teus cantores
A fonte dos amores és tu

Coimbra é uma lição
De sonho e tradição
O lent é uma canção
E a lua a faculdade
O livro é uma mulher
Só passa quem souber
E aprende-se a dizer saudade

POEMA DE A. GARRETT

Almeida Garrett


Este inferno de amar


Este inferno de amar – como eu amo! –
Quem mo pôs aqui n´alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida – e que a vida destrói –
Como é que se veio a atear,
Quando – ai quando se há de apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... – foi um sonho –
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz – Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei...


REFERÊNCIAS


GARRETT, A. Folhas caídas. Lisboa: Portugália, 1955. In: CAMPEDELLI, Samira Yousseff; SOUZA, Jesus Barbosa. Literatura, Produção de Textos & Gramática. Volume único. São Paulo: Editora Saraiva, 1998, p. 108.

ARTIGO/Cultura ibero-americana: Literatura Portuguesa

A intertextualidade em Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett


Jóis Alberto *


Autor de livros que inovaram a literatura portuguesa, como “Viagens na Minha Terra”, Almeida Garrett foi o iniciador do Romantismo literário em Portugal, em 1825, quando ele publicou o poema “Camões”, uma biografia romanceada, em versos brancos, do célebre poeta. Em terras lusitanas, o Romantismo durou aproximadamente 40 anos. Terminou por volta de 1865, com a “Questão Coimbrã” ou “Questão do Bom Senso e do Bom Gosto”, encabeçada por Antero de Quental. A citada questão marcou o advento do Realismo em Portugal, em oposição ao Romantismo, já em declínio. Como em outros países europeus, o Romantismo português está relacionado ao liberalismo e à ideologia burguesa. Questões estéticas, políticas, econômicas, culturais e ideológicas às quais Almeida Garrett estava engajado como escritor e político liberal. Garrett fez parte da primeira geração do Romantismo lusitano, ao lado de outros dois grandes escritores daquele país, Alexandre Herculano e Antônio Feliciano de Castilho.
João Batista da Silva Leitão de Almeida Garrett nasceu no Porto, em 4 de fevereiro de 1799. Devido à invasão de Portugal por tropas de Napoleão, a família de Garrett emigrou para os Açores, onde ele fez os primeiros estudos. Estudou direito em Coimbra (1816) e, empolgado com o liberalismo, chamou a atenção como orador. Em 1823 a contra-revolução absolutista levou-o a se exilar na Inglaterra. Foi nessa época em que ele escreveu o citado poema “Camões”. Voltou ainda a Portugal, para fazer jornalismo, mas foi preso e de novo seguiu para a Inglaterra. Em 1832 retornava como combatente da causa liberal. Trabalhou como correspondente no Havre e, em Bruxelas, como encarregado de negócios.(...). Almeida Garrett morreu em Lisboa em 10 de dezembro de 1854.

Viagens na minha terra

Publicado pela primeira vez em 1846, “Viagens na Minha Terra” (usaremos aqui uma edição brasileira de 1997) é uma obra singular, que mescla memórias pessoais, ficção romântica e digressões críticas sobre a realidade social e a história de Portugal. Almeida Garrett começou a escrevê-la na forma de artigos para a “Revista Universal Lisbonense”, depois de uma viagem de passeio à região de Santarém, em 1843. O livro está dividido em 49 capítulos, todos curtos, o que dá agilidade à narrativa, seduzindo aos poucos o leitor para uma viagem ao longo de todo o texto, dividido em dois planos, em meio a digressões do autor. Essas reflexões, de ordem estética, filosófica e política, nas mãos de um escritor de pouco talento ou aos olhos do leitor pouco atento, poderiam tornar o texto enfadonho. Não é o que acontece, porém, com Almeida Garrett, dono de uma cultura erudita e domínio inovador da técnica literária, não só para a época em que ele viveu, mas sobretudo para as gerações seguintes, com repercussões até à atualidade. Em “Viagens na Minha Terra”, Garrett fez um trabalho de citações, referências ao próprio autor e ao leitor, que na atualidade assemelha-se muito ao trabalho de intertextualidade desenvolvido por escritores pós modernos, como por exemplo Ítalo Calvino em “Se um viajante numa noite de inverno”, ou mesmo em narrativas de José Saramago, para mencionar um escritor português da contemporaneidade.
Nesse sentido, podemos citar a análise que Carlos Felipe MOISÉS (2001) faz acerca de “Viagens na Minha Terra”, livro que, segundo ele, pode ser lido, em princípio, como simples relato de viagem: “Se assim o fizer, o leitor acompanhará as andanças da pequena comitiva garrettiana, primeiro singrando águas do Tejo, depois por terra, Ribatejo adentro, passando por Vila Nova da Rainha, Azambuja, Cartaxo, Asseca, até chegar a Santarém - pequenos e pitorescos povoados, descritos com lentidão e bonomia, demorando-se o escritor em associações muito livres, divagações sem conta. O procedimento é marcado por acentuado gosto enciclopédico, boa dose de eruditismo exibicionista, que o leva, por exemplo, a citar inúmeros autores, de vários idiomas, inclusive o grego, no original”. Esse exibicionismo é uma pose, como assinala MOISÉS (op. cit. pags. 114 e 115), típica do dândi especial, mundano e elegante, vaidoso, requintadamente insubmisso, como era o próprio Almeida Garrett. Mas, Garrett assume essa pose com uma certa auto-ironia, como por exemplo ocorre nos resumos introdutórios colocados no início de cada capítulo, auto-ironia e condescendência que se caracterizam melhor quando ele exagera esse recurso estilístico: “(...) desce o A. destas grandes e sublimes considerações para as realidades materiais da vida (...)”.
Ainda de acordo com Carlos Felipe MOISÉS (idem, p. 117), no primeiro plano “Viagens na Minha Terra” é um despretensioso relato de viagem, ao qual se entrelaça outro relato, o de uma idealizada fantasia amorosa (o amor de Carlos e Joaninha). Já no segundo plano, o livro não passa de pretexto para que o autor possa erguer um largo painel das transformações por que passa Portugal nas primeiras décadas do século 19, por força da ruidosa e tumultuada introdução da Nova Era, liberal e burguesa. Em Santarém, cujo vale e chegada da comitiva são descritos no cap. 10, o narrador fica sabendo da história de Joaninha e de seu primo Carlos, envolvidos em uma paixão que não tem final feliz. A visão de amor acionada por Garrett é de extrema idealização e baseia-se na irrestrita fidelidade que os amantes devem jurar a seus votos. A de Joaninha é mais certa e infalível que a luz do sol: a figura feminina concentra a forma suprema de idealização romântica. Já a fidelidade de Carlos será posta à prova, sucessiva e alternadamente, ora pela vocação Don-juanesca do herói, ora por seus deveres de soldado, fervorosamente empenhado na causa liberal.
Carlos é o herói atormentado pela honesta intenção de conciliar aspirações inconciliáveis: ou bem serve à Joaninha, ou bem serve à Pátria, ou bem serve ao impulso irrefreável das conquistas amorosas. Nesse diapasão, a narrativa da fantasia sentimental se estende até o capítulo 26. Qual terá sido o destino de Carlos e Joaninha e de seu amor ao mesmo tempo incorruptível e impossível? Antes da revelação, o autor nos traz de volta à primeira viagem e informa que a comitiva segue caminho na direção de Santarém. Em meio a digressões e interrupções várias, sugerindo que as duas viagens devem entrelaçar-se, a narrativa retoma, no cap. 32, as desventuras amorosas de Joaninha e Carlos, aparentemente rematadas quatro capítulos depois.
Como sabemos, o Romantismo elevou a figura do poeta a um papel central de profeta e visionário. A apreensão da verdade deveria se dar diretamente a partir da experiência sensorial e emocional do escritor; a imitação dos modelos clássicos foi abandonada. São criações românticas o mito do artista e do amante incompreendidos e rejeitados pela sociedade ou pela amada. É conhecido como Sturm und Drang (tempestade e tensão) o movimento pré romântico que entre 1770 e 1780 propiciou as bases para o desenvolvimento do novo estilo na Alemanha e depois no resto do mundo. Goethe, autor de “Os sofrimentos do jovem Werther” (1774), se destaca numa geração de grandes escritores, na qual figuram Tieck, Novalis, e Hölderlin. (...)
A literatura romântica britânica tem como uma das fontes a novela gótica, na medida em que as reconstruções de ambientes medievais, os cenários históricos e exóticos nessas obras definiram algumas das características do romantismo. Exemplo disso são os romances históricos de Walter Scott, que transcenderam as fronteiras britânicas. Em Portugal, Almeida Garrett também escreveu romance histórico, gênero no qual o grande nome da literatura portuguesa é Alexandre Herculano, autor de “Eurico, o Presbítero”. Quanto à poesia romântica, Wordsworth e Coleridge criaram uma teoria poética baseada no livre fluxo das emoções intensas e na fantasia, que norteou a produção de Keats, Shelley e Lorde Byron. Este último poeta é citado por Garrett logo no primeiro capítulo de “Viagens na minha terra”: “(...) Não me lembro que Lorde Byron celebrasse nunca o prazer de fumar a bordo. É notável esquecimento no poeta mais embarcadiço, mais marujo que ainda houve, e que até cantou o enjôo, a mais prosaica e nauseante das misérias da vida! Pois num dia destes, sentir na face e nos cabelos a brisa refrigerante que passou por cima da água enquanto se aspiram molemente as narcóticas exalações de um bom cigarro de Havana, é uma das poucas coisas sinceramente boas que há neste mundo” (GARRETT, op. cit. p. 39)
Na França, o romantismo teve como um dos precursores o filósofo Jean-Jacques Rousseau, que defendia um modo de vida natural, sem a influência alienante da civilização. Os românticos franceses foram liderados por Victor Hugo, cujo prefácio ao drama Cromwell (1827) é considerado um manifesto literário. (...) Na Rússia, Espanha e Polônia, a literatura romântica também se desenvolveu. Na Itália, Portugal e Estados Unidos, o movimento teve forte caráter nacionalista. (...).

O romantismo na literatura portuguesa

A literatura portuguesa caracteriza-se desde os primórdios pela riqueza e variedade na poesia lírica, pela qualidade literária dos escritos históricos (...). Em Portugal, o crescimento econômico decorrente dos descobrimentos e da intensificação do comércio favoreceu a burguesia e enriqueceu também a vida intelectual, mas não proporcionou livre acesso aos ideais do Renascimento e do Humanismo. Estes ideais, na península ibérica, foram obscurecidos pela Inquisição e pela Companhia de Jesus, dos jesuítas. Apesar dessas forças repressoras, destacaram-se nomes como Sá de Miranda (...); Gil Vicente e Camões, escritores que apostavam no homem e na razão, na liberdade e na arte.
Na evolução da literatura portuguesa não se encontra movimento mais complexo que o Romantismo, que, como já vimos, liga-se às revoluções sociais pelas quais a burguesia se impôs às monarquias européias e dominou o processo político. (...). As duas grandes figuras românticas em Portugal, Almeida Garrett e Alexandre Herculano, foram ambos exilados liberais durante o governo de D. Miguel e voltaram à pátria como soldados do exército libertador. (...). Em todo o período romântico duas tendências se defrontam e se prolongam até o fim do século, já em pleno naturalismo: o lirismo pessoal, confessional, e o de inspiração universalista - seja religiosa, social ou científica. Essa contradição ainda será encontrada em Guerra Junqueiro, embora este pertença cronologicamente à Geração de 70. Da mesma forma, pode-se classificar como romântica a poesia de Antero de Quental. Somente com Cesário Verde (“O livro de Cesário Verde”, póstumo), contemporâneo de ambos, o Romantismo foi ultrapassado.

Bom senso e bom gosto

O espírito contemporâneo nas letras portuguesas teve seu ingresso mediante uma polêmica que resumiu antagonismos ideológicos e literários: a Questão Coimbrã, surgida em 1865. Em nome do status quo, o academicista Antonio Feliciano de Castilho atacou, em carta, a temática de poetas publicados por um editor de Coimbra e, na ocasião, fez referências depreciativas a Teófilo Braga e Antero de Quental. Este último, em carta aberta a Castilho, sob o título “Bom senso e bom gosto”, taxou a poesia de Castilho de imobilista e provinciana e defendeu as idéias e ideais do fim do século, a ciência, o realismo e as conseqüentes mudanças na literatura. Com outro texto, “A dignidade das letras e as literaturas oficiais”, Antero aprofundou a questão e, por sua agressividade, dividiu a opinião dos intelectuais. Camilo Castelo Branco e Ramalho Ortigão intervieram a favor de Castilho, enquanto Eça de Queirós apoiou Antero de Quental.
Na década de 1870, ou seja após a morte de Almeida Garrett e em meio de intensas atividades político-partidárias, Portugal, às voltas com problemas para administrar seus domínios na África, vivia uma grande movimentação intelectual, que se traduzia numa profusão de debates e publicações. Nesse contexto, destaca-se a chamada Geração de 70, uma das mais brilhantes da literatura portuguesa - que reuniu Antero de Quental, Eça de Queirós, Guerra Junqueiro, dentre outros. Essa geração propunha-se discutir as grandes transformações da Europa, em particular na França, na Alemanha e na Inglaterra, e incorporá-las na base de seu trabalho. O romantismo sobrevivia a duras penas, enquanto se debatia Michelet, Renan, Proudhon, Schelling, Hegel, Feuerbach, Darwin... Importavam-se livros em quantidade, traduzia-se; a Igreja tornava-se objeto de críticas... Sucediam-se os romances de Eça de Queirós, os sonetos alegóricos e autobiográficos de Antero de Quental... (...)
À época do romantismo português, e europeu de modo geral, o Brasil ainda mantinha estruturas de latifúndio, escravismo, economia de exportação e uma monarquia conservadora, remanescentes do colonialismo, condições socioculturais muito diferentes das encontradas nos países da vanguarda romântica européia, onde a ascensão da burguesia como classe hegemônica havia se consolidado e a revolução abria as portas de uma nova era. A partir de 1808, a permanência da corte portuguesa no Brasil transformou cultural e economicamente a vida da colônia, com a implantação da imprensa e as primeiras iniciativas para o ensino universitário. O subseqüente processo de independência, em 1822, ativou ainda mais a efervescência intelectual e nacionalista já instalada. Foi nesse contexto, e a partir da década seguinte, que surgiu o romantismo brasileiro, mas isso já é outra história.

REFERÊNCIAS

GARRET, Almeida – Viagens na Minha Terra – edição dirigida e apresentada por Antônio Soares Amora. Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Publifolha, 1997.
MOISÉS, Carlos Felipe – O Desconcerto do Mundo, do Renascimento ao Surrealismo. São Paulo: Escrituras Editora, 2001.

*Texto apresentado originalmente como trabalho em grupo, de Seminário da disciplina Literatura Portuguesa II, do curso de Letras da UFRN, em 2007. Do grupo, participaram as colegas de turma Milene Cristina e Ozejane... Para a publicação aqui no blogue fiz algumas mudanças, como o título, e cortei alguns trechos para diminuir o tamanho.

domingo, 19 de julho de 2009

MANIFESTO ESTÉTICO DE BANDEIRA

Manuel Bandeira


Poética


Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo
E manifestações de apreço ao Sr. Diretor
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho
vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.

De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar
Com cem modelos de cartas e as diferentes
Maneiras de agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clown de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

ARTIGO/Reforma psiquiátrica

Por uma psiquiatria mais humana
e atualizada nos hospitais de Natal


Jóis Alberto

É deplorável a atual situação do atendimento de pacientes em tratamento psiquiátrico nos hospitais públicos de Natal, como tem mostrado, com imagens contundentes, reportagens em telejornais da cidade, desde que o Conselho Regional de Medicina do RN (Cremern) interditou enfermarias do Hospital Colônia Dr. João Machado, em Morro Branco. Após essa primeira interdição, noticiada há cerca de um mês, o atendimento aos pacientes foi transferido para o Hospital dos Pescadores, nas Rocas, onde posteriormente o Cremern realizou outra interdição, possibilitando retorno do atendimento ao pronto socorro psiquiátrico do Hospital Colônia desde a noite de quarta-feira (16/07) passada. Nesse período, se anunciou que pacientes em surtos psicóticos de urgência também seriam atendidos e internados em clínicas psiquiátricas particulares, mas foi uma dificuldade grande para uma família internar numa dessas clínicas um rapaz em grave crise psicótica, levado por ambulância do SAMU, conforme mostraram recentemente imagens do flagrante de um dos telejornais. Somente a muito custo o rapaz foi internado.
Será que, após essas interdições e constrangimentos, as providências tomadas pelas secretarias municipal e estadual de saúde vão melhorar a situação dos estabelecimentos de tratamento psiquiátrico em Natal (eu uso aqui o termo “estabelecimento” porque manicômio, instituição arcaica, é uma palavra que, pela reforma, tende a cair em desuso)? Bom, espero que sim, embora eu seja um tanto cético em relação a isso. Minha experiência como repórter de jornais locais mostra que, infelizmente, são muito lentas as melhorias que ocorrem nos setores de Saúde e Educação pública na cidade – neste último setor, como professor estagiário de Português na rede estadual de ensino, tenho visto de perto o drama da Educação no ensino fundamental em Natal. Mas, voltando à questão do atendimento psiquiátrico (em CAPs – Centro de Atenção Psicossocial – e hospitais públicos) da cidade. Como melhorar esse atendimento? Essa é uma questão sempre atual e, no Brasil contemporâneo, a resposta passa necessariamente pelas propostas da Reforma Psiquiátrica e da nova legislação federal específica, mas não se limita a elas, já que o assunto é muito polêmico (necessidade ou não de internação; cronificação da “doença”; efeitos colaterais dos remédios, embora hoje os riscos desses efeitos sejam menores do que antigamente, graças aos avanços das neurociências, etc, etc).
Dentre as terapêuticas para os transtornos mentais, tenho inicialmente uma simpatia maior pela Psicanálise, que, como se sabe, após Sigmund Freud teve várias escolas criadas por discípulos dissidentes, como Alfred Adler, Carl Gustav Jung e Wilhelm Reich, dentre outros. No caso de discípulos com atuação mais recente, Jacques Lacan, por exemplo, este retoma a obra de Freud buscando fundamentações não apenas na biologia (genética, hereditariedade, sinapses, etc), como outros médicos, psiquiatras e psicólogos... Lacan se fundamenta principalmente na lingüística de Ferdinand de Saussure e na antropologia estrutural de Claude Lévi-Strauss. Para Lacan, que é um dos grandes pensadores do estruturalismo, o inconsciente é estruturado como uma linguagem. Posteriormente, o pensamento lacaniano ampliou as suas referências teóricas com a matemática e a lógica...
Na opinião de psicólogos e psiquiatras ortodoxos – especialmente os que na atualidade são ligados à instigante linha cognitivo-comportamental, de forte inspiração neo-behaviorista e sintonizada com as neurociências – a psicanálise não tem rigor científico, ou melhor, não tem consistência científica. Para quem acha que as teorias e práticas psicanalíticas de Freud estão mais para literatura do que para terapêutica das chamadas doenças mentais, opinião de boa parte dos psicólogos e psiquiatras mais ortodoxos, é bom informar sobre o diálogo crítico que o filósofo alemão Martin Heidegger – considerado por muitos o grande pensador do século 20 – mantém com a psicanálise, como mostram os trabalhos do psiquiatra suíço Medard Boss, no livro Seminários de Zollikon. Binswanger, outro psiquiatra que dialoga com o pensamento existencialista, em especial o pensamento heideggeriano, é mais conhecido por psiquiatras ortodoxos do que M. Boss. Tive um primeiro contato com o trabalho de Boss em 2004, durante um dos seminários do curso de Especialização em Filosofia da Pós Graduação em Filosofia da UFRN, ministrado pelo professor da UFPE Vincenzo Di Matteo. Esse professor mostra como Heidegger critica alguns aspectos da obra de Freud e concorda com outros: “a leitura heideggeriana, fundamentalmente, é a que predominou na tradição fenomenológica até a década de sessenta com seu ‘sim’ ao método psicanalítico e seu ‘não’ à doutrina (teoria)”. Em resumo, de acordo com Vincenzo Di Matteo, as críticas à concepção do sujeito moderno aproximam a ontologia fundamental de Heidegger da metapsicologia de Freud. Segundo Heidegger, no entanto, a análise freudiana do psiquismo mantém-se aprisionada à metafísica ocidental. Ou seja, Di Matteo aponta semelhanças e diferenças entre as análises desses dois autores, questionando também o destino das heranças deixadas por eles. Portanto, ao analisar essas questões, o que pretendo argumentar aqui é de que ainda se pode extrair valiosos ensinamentos do legado da psicanálise, não só nos aspectos clínicos mas também em relação à filosofia e à cultura de modo geral.

O mal-estar na civilização

Nesse sentido, um dos trabalhos de Freud mais estudados sobre essa relação – psicanálise, sociedade e cultura – é O mal-estar na civilização, em que analisa a possibilidade de felicidade, levando em conta o fato de que a sociedade impõe uma drástica redução das satisfações individuais. Além dessa, mais duas importantes obras dele abordam a problemática sociocultural: Totem e Tabu, onde o assunto é a origem da sociedade; Psicologia coletiva e análise do ego, na qual faz a análise dos motivos que determinam a formação e a persistência dos grupos humanos. Autores ligados à Escola de Frankfurt, como Herbert Marcuse têm livros sobre as relações da psicanálise e cultura. Um dos livros em que Marcuse aborda a questão tem por título exatamente Cultura e Psicanálise (2001), reunindo ensaios acerca de temas como a função ideológica da cultura e a dominação dos indivíduos pela tecnociência a serviço do capital.
De autores brasileiros, um livro importante sobre esse assunto é o de Renato Mezan, Freud, pensador da cultura. Mezan é autor também de Sigmund Freud – A conquista do proibido, uma biografia do fundador da psicanálise, um livro pequeno no tamanho, mas valioso como introdução para leigos no assunto. É um dos títulos da excelente coleção Encanto Radical (editora Brasiliense), lançada nos anos 80 e que, após alguns anos esgotada, está sendo relançada em 2009. Nos anos 80, circulava a Rádice, uma das melhores revistas de psicologia já editadas no Brasil, responsável pela divulgação, no País, de renomados autores da antipsiquiatria, como Cooper (também ligado à psicoterapia existencial) e Basaglia... Hoje, infelizmente, pouco se fala da antipsiquiatria nos meios acadêmicos, mas ela deu uma contribuição importantíssima para uma maior humanização do trabalho psiquiátrico, não só com a luta antimanicomial, mas também nas abordagens teóricas. Nesse sentido, é bastante conhecido e igualmente importante o trabalho que a doutora Nise da Silveira, de formação junguiana, desenvolveu no Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro, onde estão trabalhos artísticos de pessoas portadoras de esquizofrenia tratadas por ela. Nise, por exemplo, não considerava a esquizofrenia como uma doença, mas como “um estado do Ser”. E, como na visão de Heidegger a linguagem é casa do Ser e que nessa morada habita o homem, vale registrar que, na contemporaneidade, Jurandir Freire Costa é um dos grandes teóricos brasileiros da psicanálise pragmática, que tem como uma das fontes, além do pensamento freudiano, a lingüística pragmática.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

POEMA DE YEATS

William Butler Yeats

POLÍTICA
(Politics)

“No nosso tempo, o destino dos homens mostra o seu sentido em termos políticos” – Thomas Mann

Como posso eu, com essa moça ali,
Fixar a atenção
Na política russa,
Romana, ou de Madrid?
No entanto, há nesta reunião
Um homem competente e viajado,
Que sabe do que fala.
E temos um político conosco
Que já muito tem lido e meditado;
Pode bem ser que eles se enganem pouco
No que afirmam da guerra e seus ameaços;
Mas ai! se eu voltasse a ser novo
E a tivesse nos braços!

NOTÍCIA – Show musical

Odaíres interpreta canções de Mirabô em show no TCP

A cantora Odaíres apresenta show musical nesta quarta-feira (15/07) à noite, a partir das 20h no TCP – Teatro de Cultura Popular Chico Daniel, à rua Jundiaí, Tirol. No show, que faz parte da programação do Projeto Poticanto, Odaíres interpreta canções de Mirabô Dantas. A entrada é franca através de senhas antecipadas que podem ser retiradas no próprio Teatro, na Flamma Luminárias (Av. Prudente de Morais, 2005) ou Carne e Cia (Rua Apodi, 692).
Odaíres é uma das mais conhecidas cantoras de Natal. Iniciou carreira profissional nos anos 60, época em que casou com o músico Mirabô Dantas, ao lado de quem, e da irmã também cantora Terezinha de Jesus, participou dos festivais natalenses de músicas das décadas de 60 e 70. Desde então, tem participado ativamente da cena musical da cidade, seja em programas como o “Canto Geral”, da Televisão Universitária, da UFRN, ou em shows nos principais teatros de Natal.
O público há muito aplaude Mirabô como um dos mais talentosos e experientes compositores da MPB no Rio Grande do Norte, mas poucos sabem que ele vem de uma família que já deu alguns dos principais compositores da história da música no Estado. Além do próprio pai que tocava trombone, se destacam na família importantes nomes, como os músicos/compositores Tonheca Dantas e Felinto Lúcio.
As composições de Mirabô começaram a despertar a admiração do público potiguar principalmente a partir dos anos 70. Foi nessa época em que ele passou a ter uma projeção nacional, com canções suas gravadas por Elba Ramalho, Leci Brandão, Telma Soares, Maurício, Quinteto Violado, Terezinha de Jesus, Fagner, entre outros nomes da música popular brasileira.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

CRÔNICA – Dos cinemas de bairro ao multiplex

Poéticas da arte e indústria do cinema

Jóis Alberto

Quando uma criança vai pela primeira vez ao cinema, na atualidade, geralmente isso ocorre em Shopping Center, em salas multiplex muito confortáveis, para assistir as mais recentes superproduções, tanto em desenho animado, como em filmes. Mas houve uma época em que meninos e meninas descobriam a sétima arte freqüentando pequenos cinemas de bairro. Nos anos 60, quem viveu a infância no bairro natalense do Alecrim contava com alguns cinemas desse tipo, dentre os quais o melhor era o Cine São Luiz, cuja fachada eu conheci, embora nunca tenha assistido a uma sessão ali. Eu passava em frente ao São Luiz, quando ia com minha irmã, minha mãe ou meu pai para a Base Naval de Natal, a tratamento de saúde e lazer.
Foi no cinema da Base Naval, por volta de 1967, aos sete anos de idade, que vi um filme pela primeira vez: era um desenho animado de Disney ( não me lembro se vi primeiro “Branca de neve e os sete anões” ou “Pinóquio”...). Meu pai era funcionário civil da Base, trabalhando lá como marceneiro. A Marinha distribuía carteiras para os funcionários e dependentes freqüentarem o cinema. Fui a uma sessão noturna. São poucas as recordações desse dia, mas algumas reminiscências me acompanharam ao longo dessas mais de quatro décadas: o feixe da luz azulada e branca que saía do projetor para a tela; e “Pinóquio” no telão... Desde então aprendi a admirar o talento de Walt Disney, que apesar de, na vida real, politicamente ter tido posições muito reacionárias, ainda hoje eu concordo com a opinião geral: a obra artística deixada por ele continua sendo a de um dos maiores gênios da história do desenho animado. Criador de desenhos que são verdadeiras relíquias desse gênero, como os mencionados “Branca de Neve e os sete anões” e “Pinóquio”, além de “Dumbo”, “Fantasia” e “Mary Poppins” – neste, como se sabe, são usados simultaneamente desenho e atores, Disney ainda hoje, inegavelmente, continua sendo um dos gênios também das histórias em quadrinhos made in EUA, com Mickey, Pateta, Pato Donald, Zé Carioca... Depois, com o livro famoso de Ariel Dorfman e Armand Mattelart, “Para ler o Pato Donald”, que eu li no início dos anos 80, no curso de jornalismo da UFRN, passei a ver a influência dessa cultura de outra maneira, mas isso é outra história... Aliás, essa visão mais crítica surgiu bem antes da leitura desse livro, já que ainda na adolescência conheci HQ críticas, inclusive dos próprios EUA, como as pioneiras histórias de “Ferdinando” de Al Capp, depois, vindo da Argentina a “Mafalda”, de Quino, sem contar “Pererê”, de Ziraldo; os cartuns de Henfil, Nani no “Pasquim”; e ainda dos EUA a revista MAD e os desenhos do americano Robert Crumb na imprensa underground (via imprensa underground brasileira).
Quando minha família se mudou da Vila Naval, no Alecrim, para o conjunto residencial Potilândia, no bairro de Lagoa Nova, em 1969, eu voltei a assistir a alguns filmes em exibições gratuitas: uma sessão com documentário sobre lançamentos de foguetes americanos, no Sesc – os norte-americanos ainda não haviam pisado pela primeira vez no solo da lua, o que viria a ocorrer alguns meses depois; assisti ainda a outra sessão ao ar livre, com um filme religioso católico... Cheguei a freqüentar também algumas sessões num cinema popular que havia num galpão da av. 8 – não me lembro do nome do estabelecimento, porém me recordo de alguns filmes e cartazes: Tarzan, fitas de bang bang com Giuliano Gemma... Eu cheguei a conhecer o cine São Sebastião, um outro cine poeira do Alecrim da época e que se localizava na av. 10, mas só assisti por lá a duas ou três sessões...
Depois disso, ao me mudar com a minha família para o Rio de Janeiro, na adolescência assisti a algumas fitas de James Bond e, por volta dos 16 anos, os longas de karatê de Bruce Lee e a um filme erótico que marcou época no Brasil dos anos 70: Emanuelle! Aos 18 anos, voltei a morar em Natal. Comecei a freqüentar a vida noturna e, no roteiro de arte, cultura e lazer da época, um dos meus lugares prediletos era o Cine Clube Tirol (atualmente Cine Clube Natal), que então estava funcionando em dependência do prédio da Fundação José Augusto, no bairro de Petrópolis. Algum tempo depois o Cine Clube Tirol foi transferido para o auditório do Centro de Turismo. Foi nessa época, entre o final dos anos 70 e início da década de 80, que assisti aos primeiros filmes de arte. Além do cine clube, houve também uma boa iniciativa do Sindicato dos Bancários, na gestão do bancário e poeta Horácio Paiva, que promoveu sessões de cinema de arte no cine Rio Grande, no bairro da Cidade Alta, centro.
Foi no Cine Clube Tirol onde, por exemplo, assisti pela primeira vez ao “O Encouraçado Potemkim”, do grande diretor russo Sergei Eisenstein. Apesar de o filme abordar incidente ocorrido na insurreição de 1905 – e não propriamente na revolução soviética de 1917 –, mas como estávamos nos tempos da ditadura militar brasileira, confesso que assisti, com temor e preocupação, a esse e a outros filmes políticos exibidos no cine clube. Embora fosse o tempo de abertura política no Brasil, que permitiu um pouco mais de liberdade, por outro lado o medo e a paranóia infelizmente ainda faziam parte do cotidiano de muitos brasileiros, porque a extrema direita e os militares da linha dura ameaçavam, a todo momento, retrocesso político, como os jornais daqueles tempos noticiavam com muita freqüência. Felizmente, tanto no Brasil, quanto no exterior – até mesmo com o governo democrático de Jimmy Carter, nos EUA -, as pressões por liberdade política e por um pleno restabelecimento da democracia aumentavam a cada dia. Um dos momentos mais significativos desse contexto ocorreu em 1979, ano da anistia política, que permitiu liberdade para os presos políticos no Brasil e o retorno dos exilados, como Luis Carlos Prestes, Leonel Brizola, Fernando Gabeira..., para citar os nomes mais conhecidos dentre os que se destacavam no noticiário da época.
Da sessão do cinema de arte do Cine Rio Grande, me lembro de ter assistido, dentre outros, ao longa “Esse obscuro objeto do desejo”, de Buñuel, um dos cineastas que desde então figura entre os meus prediletos. Nessas ocasiões, cheguei a vender alguns exemplares do meu livro de poesia editado em mimeógrafo, “Trabalho de Poeta”, para eventuais compradores que estavam na fila do cinema. Mas isso – as peripécias, erros e acertos da chamada geração da poesia marginal ou de mimeógrafo – também é outra história, que brevemente pretendo abordar aqui no blog.

sábado, 11 de julho de 2009

POEMA de Jules LAFORGUE

Jules Laforgue

LAMENTO SOBRE CERTAS ARRELIAS

(Complainte sur certains ennuis)


Cosmogonias no poente!
Oh! como a vida é cotidiana...
E, se a miemória não me engana,
Como eu fui pífio e sem talento...

Que bom era desabafar
Contando coisas surpreendentes,
Fazendo, duma vez pra sempre,
Compreender-nos sem falar

Que bom exaurir o silêncio,
Romper o exílio das palestras;
Mas não, essas damas são agrestes,
Em assuntos de precedência,

Têm amuos, são intratáveis,
Mas há quem diga, com dialética,
Que, por confusão superestética,
Entes assim são adoráveis.

Justamente, vemos aquela
A chamar-nos, para buscar
Seu perdido anel (em que mar?)
Recordação de amor, diz ela!

Entes assim são adoráveis!

terça-feira, 7 de julho de 2009

NOTÍCIA/ Sessão Cinema e Psicanálise


O demônio do meio-dia

Filme francês aborda, com bom humor, divórcio
de quarentão que busca “pastos verdes”


“O demônio do meio-dia” é o título do filme que será exibido às 20h de sexta-feira, 10/07/09, na Aliança Francesa de Natal, Praça Cívica, Petrópolis, dentro da programação da “Sessão de Cinema e Psicanálise”, promovida pela Escola Brasileira de Psicanálise, Delegação Rio Grande do Norte. Trata-se de uma comédia, com direção de Marie-Pascale Osterrieth, roteiro de Michèle Bernier e Florence Cestac. No elenco Michèle Bernier (Anne), Simon Abkarian (Julien) e Mathis Arguillère (Pierre).
De acordo com a sinopse do filme, “por volta dos quarenta, o macho humano tem o costume de deixar sua esposa `usada´ para ir atrás de pastos verdes”. Anne experimenta isso com Julien, o homem de sua vida. Depois de quinze anos de vida em comum e um adorável filho, ela deve se render à evidência: Julien está apaixonado. Cega, depois revoltada e partindo a procura de amantes, ela acaba por aprender a viver com uma realidade que não quis nem para ela nem para seu filho. E como todas as grandes crises da vida, sua dor faz eco a outras mais escondidas, da infância. Mas todo esse caos lhe permite descobrir uma capacidade que ela não conhecia: a de rir disso. Esta comédia reflete uma parte da vida de Michèle Bernier e de seu divórcio.